Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
'TRABALHADEIRA, MULHER E GUERREIRA': O (PRECÁRIO) TRABALHO DAS AGENTES COMUNITÁRIAS DE SAÚDE EM UMA ABORDAGEM DE GÊNERO
Menezes Alves Fernandes de Clarissa, Barbosa Helena Simões Regina

Resumo


Esta pesquisa teve por objeto de estudo o trabalho de agentes comunitárias/os de saúde (ACS), apreendido em seu cotidiano de trabalho e de vida. A abordagem utilizada considerou as relações entre trabalho em saúde e gênero, enfocando-se a dinâmica entre as esferas produtiva e reprodutiva do trabalho feminino. O trabalho de ACS é marcado por questões de gênero entrelaçadas às desigualdades de classe social. A abordagem conceitual adotada explicita a naturalização da ideologia de gênero e da divisão sexual do trabalho que permeia esta profissão, que tem como eixo a atenção à saúde das comunidades em que vivem. A maioria das ACS é recrutada entre moradoras de comunidades pobres das periferias urbana e rural. O vínculo trabalhista é marcado pela precariedade, configurando condições de aviltamento salarial, extensas jornadas de trabalho, precariedade de instalações e meios para a realização do trabalho. A presente pesquisa, de natureza qualitativa, teve por objetivo explorar a percepção crítica das ACS sobre seu trabalho. Para tal, realizou-se nove entrevistas com ACS que trabalham no Complexo da Maré, município do Rio de Janeiro, região marcada por extensas carências sociais e pela violência. As entrevistas foram conduzidas a partir de eixos temáticos: 1) Perfil, contextos familiares e breve história de vida; 2) Trabalho assalariado: a profissão ACS; 3) Relações entre trabalho e saúde; 4) O contexto familiar e o trabalho reprodutivo não-remunerado. Os resultados mostraram que as ACS desenvolvem um forte compromisso social com suas comunidades, o que, em função da não delimitação do tempo entre trabalho remunerado e doméstico, acarreta em sobrecarga de trabalho, com consequências sobre a saúde física e psíquica destas trabalhadoras. No tocante ao trabalho em saúde, desenvolvem um conceito ampliado de saúde, compreendida como resultante de múltiplos processos sociais. Por outro lado, o vínculo precário, os baixos salários e o não reconhecimento do valor desta modalidade de trabalho pelas esferas governamentais, por gestores e serviços de saúde gera forte sentimento de frustração e desestímulo em relação à profissão. O olhar atento e comprometido com esta importante categoria profissional fortalece uma concepção de profissionais de saúde que têm necessidades enquanto seres humanos, enquanto força de trabalho, enquanto mulheres, fortalecendo a luta desta categoria profissional pelo reconhecimento e valorização do trabalho e por condições de trabalho adequadas.