Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A Atuação de Preceptores de Saúde da Família junto a Acadêmicos de Enfermagem: Desafios do Cotidiano
Elaine Franco dos Santos Araujo, Fabiana Silva Marins Nazareno Cosme

Resumo


O termo preceptoria tem sido utilizado com distintos significados, mas de um modo geral, refere-se ao exercício sistemático de acompanhamento e orientação de graduandos ou pós-graduandos. É consenso que esta forma dinâmica e aproximada de ensino visa a atender as mudanças propostas pela LDBEN/96 e DCN do curso de graduação em Enfermagem/2001, além de vir ao encontro das nossas necessidades atuais de um profissional menos teórico (não menos embasado cientificamente) e mais próximo do que é real. Este estudo teve por objetivos descrever e analisar o cotidiano de trabalho dos preceptores de saúde da família na atuação junto a acadêmicos de enfermagem do 8º período do Curso de Graduação. Acompanhando o cotidiano das ações desenvolvidas pelos preceptores de três unidades de saúde da família da CAP 5.1 do Município do RJ junto aos acadêmicos do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da EEAN/UFRJ, observou-se que algumas das estratégias didático-pedagógicas utilizadas na preceptoria para facilitar o processo de ensino-aprendizagem dos graduandos de enfermagem incluíam: 1. Esboço de planejamento, com demais preceptores da unidade, fomentando a integração do grupo, levando em consideração as necessidades da comunidade e a diversidade de experiências importantes ao aprendizado do graduando; 2. Acolhimento dos graduandos; 3. Realização de uma roda com graduandos e preceptores a fim de refinar as apresentações; 4. Realização de um diagnóstico inicial do aluno; 5. Construção do planejamento das ações levando em consideração o esboço realizado anteriormente; 6. Construção de um contrato de convivência; 7. Diálogo entre a dupla de graduandos e seu preceptor de referência; 8. Estabelecimento de uma comunicação efetiva; 9. Reconhecimento por parte do aluno sobre o local de trabalho, tentando perceber suas rotinas e dinâmicas cotidianas; 10. Discussão sobre o percebido, o real e o ideal sobre o funcionamento da unidade; 11. Orientações sobre as expectativas da preceptoria relativas à postura e abordagem do aluno no processo de trabalho; 12. Solicitar planejamento e execução de Atividade de Educação permanente; 13. Demonstrar condução de grupo a partir de método problematizador e estimular a condução e planejamento pelo graduando; 14. Solicitar que a partir de dados epidemiológicos, identifiquem temas para realização de sala de espera; 15. Solicitar planejamento para realização de trabalhos educativos intersetoriais; 16. Estimular encontro semanal com todo o grupo para discussão de casos advindos da prática, identificados pelos graduandos como relevantes; 17. Realização de teorização participativa antes da realização das consultas nas primeiras semanas, depois a medida que as demandas surgirem; 18. Realização de um diário de campo para o monitoramento próprio das atividades realizadas; 19. Encontro semanal com o tutor (professor supervisor do estágio) para discussão da evolução do processo de ensino aprendizagem, que é de fundamental importância para o refinamento do processo de ensino-aprendizagem. Finalmente, vem a questão da avaliação, que acontece cotidianamente como parte do processo de ensino-aprendizagem, sendo vista como ferramenta e não como produto. Ela é realizada com base em um instrumento que apresenta os seguintes critérios: comprometimento com o serviço; interesse pela aquisição de conhecimento próprio, da equipe e da comunidade; competência para realização de planejamento das atividades; apresentação pessoal, assiduidade, pontualidade; relação com a equipe, com o preceptor e com a comunidade. Em geral, a avaliação é feita antes do início das atividades, através do diagnóstico inicial do aluno; durante o desenvolvimento das atividades com enfoque não só no desempenho, mas na atitude reflexiva frente aos desafios; semanalmente através de auto-avaliação e orientação do preceptor sobre os avanços ainda necessários; e após cada atividade realizada pelo aluno. A despeito da importância e da singularidade da atuação dos preceptores de Saúde da Família, existem fatores que interferem no processo de preceptoria, dentre os quais ressaltamos: o perfil necessário para o desempenho desta função; a organização do tempo; o número de alunos a serem acompanhados; a necessidade de orientação clara sobre suas atribuições; o apoio por parte dos gestores; o estímulo profissional; a necessidade de discussões sobre a temática com trocas de experiências, entrosamento academia-preceptor-aluno e a falta de material de apoio. No que tange a estes desafios, é preciso que academia e serviço busquem alcançar estratégias comuns para o alcance de uma melhor qualidade na formação dos enfermeiros que estarão assumindo as equipes de saúde da família para a consolidação da Atenção Primária no SUS.