Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A Dimensão do Cuidado na Formação de Trabalhadores de Nível Médio da Área da Gestão em Saúde
Tereza Cristina Ramos Paiva, Maria Inês Carsalade Martins

Resumo


INTRODUÇÃO A reorganização do sistema de saúde brasileiro, através da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), buscou a unificação da assistência, a universalização de cobertura, a descentralização o sistema, a participação da sociedade e uma nova concepção de saúde e de novos modelos de atenção, significando uma mudança expressiva na política de saúde brasileira. Embora com inegáveis avanços, o SUS ainda apresenta grandes desafios na sua implantação. Há sintomas de crescimento e de degradação em seu desenvolvimento e vários impasses para a sua implantação. No cenário atual continua existindo o confronto de diferentes interesses, que expressam desafios na luta por um serviço público, universal e integral. Novas formas de governar e de cuidar na saúde mostram-se indispensáveis para a efetiva consolidação do SUS, ampliando a importância da formação dos trabalhadores da saúde sob a ótica da integralidade da atenção e do cuidado em saúde, visto que é no exercício cotidiano de suas práticas que os trabalhadores executam, junto com gestores e os usuários do sistema, a política de saúde. Considerando o SUS uma política em processo de implementação do qual participam e disputam diversos atores sociais, a formação dos trabalhadores de saúde é um elemento estratégico, ao entender que estes trabalhadores são sujeitos sociais com capacidade de ação política para participar da luta e da construção de um novo projeto que reduza a desigualdade de acesso, que possibilite um controle crítico sobre os processos de trabalho e do uso de tecnologias e que garanta a todos uma atenção integral à saúde. (Campos, 2006). Este estudo dará ênfase a formação dos trabalhadores de nível médio da área da gestão, por considerar o papel fundamental que desenvolvem na produção do cuidado em saúde, o elevado número de empregos que representam no setor saúde e pelo interesse de avaliar o seu reconhecimento nas políticas públicas de saúde. A escolha do termo “trabalhadores de nível médio da área da gestão” tem a intenção de reforçar a compreensão de que estes são trabalhadores do setor saúde, e assim reconhecer sua inserção as relações e processos de trabalho, nas equipes, nas decisões, na produção do cuidado. Estes trabalhadores desenvolvem atividades administrativas de suporte para a qualidade da atenção, sejam no sistema de informação e registro, no almoxarifado, nas constas médicas, no setor de recursos humanos, na comunicação, entre outros. Segundo dados do IBGE (2005) os trabalhadores de nível médio da área da gestão representam 25,3%, dos empregos no setor saúde no Brasil, segundo grandes regiões, porém a formação para estes trabalhadores não se dá na mesma proporção, o que os coloca muitas vezes à margem do sistema e “invisíveis” nas políticas de formação. Segundo Dejours (1992), muitas vezes o trabalhador não conhece a própria significação de seu trabalho em relação ao conjunto de atividade exercida pelo setor. Sua tarefa passa a não ter significação humana elevando-se as queixas sobre a desqualificação, que não se referem apenas nos salários. A vivência depressiva condensa sentimentos de indignidade, de inutilidade, de desqualificação. A execução de uma tarefa sem investimento material ou afetivo, exige um grande esforço de vontade. Esta vivência depressiva alimenta-se da sensação de adormecimento intelectual, e paralisia da imaginação e marca o triunfo do condicionamento ao comportamento produtivo. Outro fato importante é considerar os propósitos desta formação, pois embora no campo dos recursos humanos na área da saúde, o setor público detenha 56,4% dos trabalhadores (Machado, 2008), a lógica predominante na maioria das instituições formadoras na área da saúde, é a do mercado com pouca formação para o setor público. Quanto às especificidades do setor saúde é preciso considerar que este é um dos setores com maior índice de empregabilidade no país, gera muitos recursos financeiros, direto e indireto, onde o setor privado possui forte financiamento público. O processo de trabalho é complexo, onde vários procedimentos são realizados, em diferentes instituições. É um setor marcado por forte corporativismo, pela feminilização, por necessidade da manutenção de uma relação de segredo, sigilo e ética, por diferentes modelos gerenciais, pela possibilidade da participação social e por uma longa jornada de trabalho (Machado, 2008). Este estudo busca compreender a trajetória das políticas de saúde e de políticas de recursos humanos antes e após a criação do SUS para pensar as necessidades atuais de formação dos trabalhadores da saúde, considerando que esta se caracteriza um importante aspecto da qualificação necessária para a consolidação do sistema. Busca contribuir para a discussão de novas perspectivas e possibilidades de construção do sistema, através da transformação e qualificação dos profissionais envolvidos e assim avaliar a necessidade de se propor eixos curriculares que possam subsidiar a criação de cursos na área da gestão em saúde, que possibilitem aos trabalhadores a análise crítica e global dos processos produtivos, o exercício do trabalho integrado, e maior liberdade de decisão. Em suma, que possam contribuir para a construção de sujeitos capazes de transformar suas práticas, e as atuais demandas do processo de efetivação do SUS na perspectiva da integralidade. OBJETIVOS Objetivo Geral: Analisar a formação de trabalhadores de nível médio da área da gestão em saúde na perspectiva da integralidade do cuidado, visando o aperfeiçoamento do processo de formação e implementação do SUS Objetivos Específicos: Relacionar as políticas de formação de recursos humanos na saúde ao modelo assistencial hegemônico; Identificar as bases de formação dos trabalhadores para a qualificação da atenção à saúde; Analisar o currículo de cursos de especialização de nível médio na área de gestão na perspectiva da integralidade; compreender como o conceito da integralidade do cuidado em saúde é incorporado na prática profissional dos trabalhadores da área da gestão. MÉTODO: Para buscar alcançar os objetivos propostos neste trabalho está sendo realizada uma pesquisa qualitativa, com base na metodologia estudo de caso, do tipo exploratório/descritivo. Este estudo busca traçar um paralelo entre as políticas de saúde no Brasil e as políticas de formação de trabalhadores através da análise dos relatórios das conferências Nacionais de Saúde e as Conferências Nacionais de Recursos Humanos na Saúde. Através da observação participativa e de grupo focal com trabalhadores, visa conhecer como o conceito da integralidade do cuidado em saúde é incorporado nos processos que envolvem a produção da saúde RESULTADOSE CONCLUSÃO: Os resultados estão na fase de análise. Espera-se que eles forneçam elementos que possam contribuir para o debate sobre os propósitos da formação dos trabalhadores de nível médio da área da gestão no SUS.