Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A construção da identidade da agente comunitária de saúde: relações de poder e desigualdade de gênero historicamente construída
Dyjane dos Passos, Natália Hosana Nunes Rocha, Paula Dias Bevilacqua, Marisa Barletto

Resumo


A abordagem dessa temática parte da vivência em um projeto de pesquisa-extensão, desenvolvido pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero (NIEG/UFV), que realiza um programa de educação permanente para agentes comunitários/as de saúde (ACS) no município de Viçosa-MG. Objetivou-se analisar a construção da identidade da ACS, levando em consideração as relações estabelecidas com a equipe de saúde e com os/as usuários/as. Além disso, procurou-se identificar as relações de gênero que permeiam essa profissão, marcadamente feminilizada. Para tanto, utilizamos a técnica de observação participante durante caminhadas transversais realizadas com ACS durante visitas domiciliares, bem como observação em espaços de formação promovidos pelo NIEG para os/as ACS do município. Os dados foram analisados a partir das categorias: espaço público e privado; saberes populares e científicos. Percebemos que o perfil profissional que a ACS assume é diferente dos demais integrantes da equipe de saúde, ficando aquela subordinada às outras categorias profissionais, o que contribui para hierarquizar as relações. Um elemento fundante de tal hierarquização é a dicotomia entre saber biomédico e saber popular, em que o primeiro é valorizado em detrimento do segundo. Com relação à dicotomia doméstico-público (o ‘bairro’), torna-se de grande relevância destacar o cotidiano do trabalho, ou seja, as visitas domiciliares, uma vez que é no bairro onde moram que suas relações se estabelecem e se fortalecem, pois é onde se localizam seus vínculos afetivos e até mesmo suas desavenças. Esse espaço, que é ao mesmo tempo público, por se tratar do bairro, é também privado, por ser uma área de reconhecimento de seu cotidiano. Nesse sentido, percebemos uma diluição da fronteira entre esses dois espaços, os quais são constantemente negociados pelas ACS no desenvolvimento de suas atividades profissionais. Podemos dizer que a profissão de ACS é desvalorizada não por ser ocupada quase em sua totalidade por mulheres, mas, sim, por ser um trabalho visto como feminino e associado ao doméstico, condição essa constituída historicamente de marcadores de desigualdades de gênero, associando a mulher aos cuidados familiares e domésticos e à condição de subordinação. A construção da identidade da ACS se dá no dia-a-dia, em sua convivência conflituosa e afetiva com a equipe de saúde e com a comunidade e, também, em suas práticas cotidianas marcadas por hierarquias e condições desiguais historicamente constituídas.