Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A construção de rede de cuidado através da circulação em território (des)conhecido: um relato de experiência
Bruna Romano Gomes, Flavia Fasciotti

Resumo


Caracterização do problema: este trabalho destina-se a fazer um relato de experiência da inserção e acompanhamento de uma residente multiprofissional em saúde mental em um caso de uma paciente internada ha quatro anos no Instituto de Psiquiatria – IPUB/UFRJ. Descrição da experiência: ML mulher, 72 anos, internada há quatro na Enfermaria Feminina para pacientes agudos. Tem o diagnosticado de Demência por Cospúsculo de Lewi, embora tenha um histórico de internações por doenças psiquiátricas. É conhecida pela equipe de enfermagem por ser quieta e passar boa parte de seus dias deitada no leito. Por essas características, acaba muitas vezes esquecida em meio à loucura das demais pacientes. O início do contato com ML foi bastante complicado. Difícil simplesmente estar. Estar com o silencio, com não-atividade, com as paredes sujas e o cheiro de cigarro, simplesmente em silêncio. O investimento no caso de ML era inicialmente intenso, porem muito sutil. Era através do meu desejo de estar ali, que podíamos estar juntas. Efeitos alcançados: Aos poucos, através do estabelecimento do vinculo comigo e construção de um Projeto Terapêutico Singular o que vai delineando é um caminho de circulação de ML em territórios já conhecidos, retomando detalhes, sensações e percepções de sua vida e sua história. Inicia-se um projeto de circulação no território (inicialmente internos, para que posteriormente sejam externos à instituição), criando assim um fluxo de circulação, uma rede interna à instituição que aumenta as possibilidades de experimentação, retomada de vínculos e desejos que, com o passar dos anos, perderam a cor. Aos poucos, ML passou a produzir outras possibilidades para seu período de internação, falando sobre sua família e de saudades, de seus interesses e desejos. Passou, aos poucos a questionar se o local onde estava era uma casa ou hospital e se hospital era um lugar onde alguém deveria morar, dando inicio a um novo momento do acompanhamento de seu caso, ou seja, a construção de novas possibilidades para morar. Recomendações: Foram os pequenos detalhes, na forma de ML pentear os cabelos, arrumar as roupas dentro da bermuda e sair do quarto somente acompanhada por alguém, pois tem medo das demais mulheres internadas, que me levaram a compreender que ML luta cotidianamente, nas pequenas ações para preservar a sua identidade e seu desejo, que tanto a patologia quanto as forças massacrantes da Instituição tendem a diluir. Percebo hoje, que meu trabalho junto a ela, é simplesmente (sem retirar toda a complexidade que se impõe a esse trabalho) oferecer elementos para auxiliá-la neste processo, que ela mesma vem construindo há anos. Torna-se de fundamental importância, portanto, que o profissional da saúde esteja atento e seja sensível ao encontro com o usuário, deixando-se afetar pela singularidade dos sujeitos a quem destina seus serviços.