Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A formação integral na área de gestão em saúde
Grasiele Nespoli

Resumo


A luta em defesa da saúde no Brasil gerou uma série de questionamentos acerca das políticas, dos modelos e das práticas de formação dos trabalhadores sustentados pelo tecnicismo, pela fragmentação do conhecimento e pela divisão social do trabalho. Dos questionamentos surgiram críticas e proposições que ensejam iniciativas capazes de transformar os processos formativos e a organização do trabalho na saúde. Nesse sentido, a formação politécnica foi fortalecida no âmbito da educação profissional em saúde, no intuito de romper práticas que preparam os trabalhadores para ocuparem postos de trabalho oferecidos pelo mercado, sem formar uma visão crítica e transformadora da realidade. A formação tecnicista se constitui como um problema para a saúde pública ao sustentar e reproduzir a fragmentação do trabalho e um modelo assistencial pautado numa racionalidade biomédica e instrumental. Na contramão dessa perspectiva, uma formação crítica, política e ética é, portanto, um dos desafios para a construção do Sistema Único de Saúde (SUS). Este trabalho apresenta uma reflexão da experiência de formação técnica, integrada ao ensino médio, na área de gestão em saúde no contexto de uma instituição pública de ensino. O Curso Técnico de Gerência em Saúde é fundamentado num Projeto Político Pedagógico que tem base na noção de politecnia, que enfatiza a indissolubilidade entre política e gestão, e está organizado por componentes curriculares e estratégias educativas que envolvem pesquisa, articulação entre teoria e prática, e a formação de uma visão crítica, por meio de vivências nos serviços, sobre os modos de produção e de organização do trabalho na saúde. Os conteúdos abrangem questões gerais da saúde pública e específicas da área de gestão, possibilitando uma formação consistente com as necessidades do SUS, especialmente no que tange aos processos de trabalho comprometidos com as atividades meios, implicadas com os objetivos das instituições e serviços de saúde. Ao articular educação, trabalho, ciência e cultura, a formação possibilita a construção de uma visão ampliada acerca dos desafios de constituição do SUS e forma trabalhadores comprometidos com um processo social capaz de instituir a saúde como direito de cidadania. Por meio desta experiência é possível afirmar o quão fundamental é investir em processos formativos capazes de superar a divisão, entre aqueles que pensam e aqueles que executam, que sustenta o modelo capitalista de organização do trabalho na saúde.