Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A pertinência da criatividade e da edificação de novas institucionalidades no processo de desinstitucionalização na saúde mental.
Gisela Giannerini

Resumo


Este trabalho surgiu a partir da experiência relatada na Monografia de conclusão da Residência em Saúde Mental vivenciada no Instituto Municipal de Assistência Nise da Silveira, no Rio de Janeiro, o antigo Hospital Pedro II, no Engenho de Dentro. O objetivo é o de problematizar situações de longa institucionalização de pacientes jovens que, internados em um hospital psiquiátrico ininterruptamente desde que passaram a integrar a clientela adulta (18 anos), trazem-nos um paradoxo: a necessidade de pensarmos na desinstitucionalização destes jovens pacientes com risco ou já em situação de cronificação. Neste sentido, o intuito é o de discutir o quanto tais pacientes, remanescentes no hospício, apontam para o fato de que algo continua a se (re) produzir num caminho que já vem sendo modificado pela política nacional de Saúde Mental. A discussão pretende ressaltar o risco de vermos uma nova geração de moradores do hospício, em contraponto a importantes avanços da Reforma Psiquiátrica que luta diariamente pela reversão dos efeitos de anos de tratamento segundo a lógica manicomial. No desenvolvimento da discussão, viso problematizar histórias de internações de longa permanência a partir da suposição de um duplo processo de cronificação – tanto nos pacientes quanto nas práticas que regem o cuidado – como cerne do problema, além de situações que ilustram os efeitos de um trabalho pautado na produção de vida. Proponho o exercício ativo da intersetorialidade ressaltando a importância de ações específicas através da operacionalização de uma rede múltipla para o cuidado de jovens com distintas necessidades decorrentes da institucionalização prolongada. Um antigo amigo, um vizinho, um cuidador, um padastro, uma residência terapêutica, todos surgem como possibilidades na criação de destinos distintos de uma vida em instituição. Acreditar na potencialidade presente na aposta em redes comunitárias e singulars para pacientes graves é essencial no trabalho em saúde mental. Ao final, pretendo discutir a pertinência da edificação de novas institucionalidades e familiaridades na sustentação do processo de desinstitucionalização, bem como da continuidade do cuidado em saúde mental no território, sublinhando os desafios da construção de novos lugares de endereço e pertencimento para pacientes institucionalizados por longo tempo, e acreditando que a construção de redes de cuidado passa pela criatividade, inovação e principalmente pela aposta em novos caminhos.