Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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A tecnologia relacional do acolhimento e a formação em enfermagem
Lyra Candida Calhau Rebouças, Viviane Mascarenhas Rebouças, Josicélia Dumet Fernandes, Gleide Lemos Pinheiro, Camila Alves Souza

Resumo


Não se pode negar os avanços e conquistas do Sistema Único de Saúde - SUS, nos seus 22 anos de existência, porém ainda identificamos grandes lacunas nos modelos de atenção e gestão dos serviços no que se refere ao acesso e ao modo como o usuário é acolhido nos serviços. A tecnologia relacional do acolhimento, pensamos, é uma das diretrizes que contribui para alterar essa situação, na medida em que incorpora a análise e a revisão cotidiana das práticas de atenção e gestão implementadas nas unidades do SUS. Porém, para a sua incorporação na prática assistencial se faz necessário pensar em como está ocorrendo o processo de formação do profissional de saúde, já que historicamente, a sua formação se deu voltada para o modelo curativista, assistencial, biologicista e curativo. Nesse sentido, esse estudo tem como objetivo compreender como se configura o ensino da tecnologia relacional do acolhimento na formação profissional da enfermeira. Trata-se de uma pesquisa descritiva de caráter qualitativo, realizada com 12 docentes e 09 discentes de um curso de graduação em enfermagem. Utilizamos como instrumento de coleta de dados a técnica de Grupo Focal, realizada em 04 sessões para cada grupo de informantes, separadamente. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sob Parecer número 037/2009, e os colaboradores participaram de forma voluntária mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Resolução no 196/96, do Conselho Nacional de Saúde). As entrevistas foram gravadas e os depoimentos foram organizados e trabalhados baseados na técnica de análise de conteúdo de onde emergiram cinco categorias temáticas, entretanto os resultados aqui descritos e analisados são referentes à categoria Acolhimento e suas sub-categorias: Capacidade de escuta, Percepção e consideração das queixas subjetivas e Atenção dispensada ao paciente. A escuta é vista pelas informantes como um aspecto essencial da relação profissional-usuário, entendida por alguns como uma forma de cuidar, porém esse entendimento é meramente teórico, à medida que também percebemos nas falas que a técnica é muito mais valorizada do que as relações interpessoais, tanto para as discentes quanto para as docentes. As entrevistadas também demonstraram em suas falas uma preocupação com as queixas subjetivas, porém afirmam que pra conseguir entendê-las, ou mesmo permitir que o paciente consiga se expressar, é necessário o estabelecimento de uma relação de confiança, um vínculo, que muitas vezes não se estabelece em função do pouco tempo de contato e da postura do professor, sempre interessado em atender a todos, não se importando muito com o estabelecimento de uma comunicação dialógica. Concluímos, portanto, que pouco tempo, alta demanda e supervalorização da técnica são os principais fatores que influenciam a qualidade do cuidado prestado ao usuário. Ressaltamos que este trabalho é parte de uma pesquisa de Dissertação de Mestrado em Enfermagem.