Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Atalhos e barreiras à porta do Sistema Único de Saúde Urbano.
Aderli Goes Tavares, João Gomes Tavares Neto

Resumo


Introdução: O estudo integra a investigação sobre redes sociais e os “atalhos” construídos por usuários do SUS para acessarem aos serviços de saúde. Compreende-se atalhos como situações instituintes (Castoriadis: 1982) e informais no contexto de um sistema instituído, o SUS, capazes de encurtar a distância entre usuários e serviços. Os atalhos se justificam pelo fato de o caráter universalista do SUS, não garantir acesso e atendimento eficaz a todos os demandantes. Assim os usuários adotam ações instituintes e informais que potencializam o acesso ao sistema. O lócus da pesquisa é o bairro do Guamá em Belém-PA especificamente junto a usuários do Pronto Socorro, Unidade de Saúde, Estratégia Saúde da Família e Hospital Universitário João de Barros Barreto. Objetivos: Objetivamos identificar possíveis “atalhos” de acesso aos serviços do SUS; perceber a interpretação dos usuários para as distintas formas de atalho, no que concerne aos juízos de valor; compreender os espaços de interseção onde se defrontam a impessoalidade do modelo de gestão do SUS e a cultura brasileira da impessoalidade. Método: Adotamos o método etnográfico aproximando preceitos do interpretativismo de Geertz (1989) e a hermenêutica de Gadamer (2002). Isto nos permite unir o trabalho de campo etnográfico à abordagem interpretativista, que exercita a compreensão do outro histórico como sujeito envolto num universo simbólico complexo. Utilizamos entrevistas semi-estruturadas, para construir narrativas que identificam trajetórias de acesso e permanência dos usuários no SUS. Resultados: Consideram-se como resultados parciais: 1) os usuários constroem um subsistema paralelo e convergente ao SUS para potencializar o acesso aos serviços de saúde; 2) mobilizam frequentemente redes sociais que incluem: conhecimento e aceitação das regras de acesso formal ao SUS, aceitação parcial ou total do acesso quando usado em parte o atalho, rejeição de acesso quando isso envolve corrupção; 3) malhas frouxas, com maior ramificações são mais acionadas do que as malhas estreitas, com menos ramificações; e 4) predominância das relações de amizade na busca de acesso ao sistema. Conclusão: Conclui-se que as interações sociais construídas pelo usuário caracterizam-se como redes e malhas frouxas usadas para o acesso ao SUS. Observa-se que as diferentes formas de atalho indicam relações de pessoalidade imersas na cultura brasileira em contraste com um modelo de política pública impessoal.