Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Atenção à saúde de usuários de crack em situação de rua
Luciane Marques Raupp, Rubens Adorno

Resumo


Introdução: O abuso de substâncias psicoativas é considerado atualmente um importante problema de saúde pública. O surgimento nas últimas décadas do derivado da pasta de coca conhecido como crack agravou os prejuízos sociais e à saúde dos usuários, associando-se a uma maior estigmatização e agravamento da barreira de acesso desse público aos serviços de saúde. Esse trabalho apresenta resultados de uma pesquisa que visou descrever o cotidiano e as práticas de consumo de crack de freqüentadores das cracolândias de duas capitais brasileiras, São Paulo e Porto Alegre, a partir da inserção no trabalho de campo de uma equipe do Estratégia de Saúde da Família e de uma ONG identificada com o paradigma da Redução de Danos. Objetivos: Descrever o trabalho das duas equipes, seus objetivos, formas de atuação e suas representações sobre o público alvo. As implicações da produção da pesquisa junto às equipes serão problematizadas. Metodologia: Estudo etnográfico com observação participante e registro em diário de campo, tendo-o como base para análise dos dados. Resultados: Apesar de as duas equipes atuarem junto a pessoas em situação de rua usuárias de drogas, seus objetivos e formas de trabalho eram distintos. Na equipe da ONG as ênfases eram sobre a prevenção e a criação de vínculos. Realizava abordagens na rua e em sua sede, distribuição de insumos para uso seguro de drogas e encaminhamentos. Já a equipe do ESF realizava procedimentos de quantificação de usuários e patologias e prevenção/terapêutica de doenças. O uso de crack era visto como um empecilho ao autocuidado e ao desenvolvimento do trabalho. Conclusão: A pesquisa junto à ONG possibilitou maior proximidade aos usuários, possibilitando conhecer seu cotidiano e práticas. O vínculo dos redutores de danos com os usuários dava-se por uma aceitação de seus estilos de vida e a proposição de práticas de autocuidado sem impor a abstinência. Já na pesquisa junto ao ESF havia a tendência de a pesquisadora ser vista como alguém da área da saúde, impondo barreiras ao conhecimento de práticas “não aceitáveis”. Por outro lado, propiciou conhecer o perfil de saúde/doença e as práticas da área na atenção à população na rua. Os diferentes objetivos de trabalho e concepções sobre o uso de drogas entre as duas equipes delinearam formas específicas de o quê e como compreender os dados de campo.