Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
Educação em Saúde e o olhar sobre os desabilitados.
Paula Gaudenzi

Resumo


Introdução/objetivo. Este trabalho se insere no campo temático da Educação em Saúde na interface com as práticas terapêuticas e a bioética. O objetivo do estudo é problematizar a forma como a prática educativa é exercida na formação de profissionais de saúde e nas práticas cotidianas do Sistema Único de Saúde (SUS) apontando para possíveis implicações éticas da mesma. Pretendemos aqui refletir sobre as implicações oriundas da metodologia da Educação em Saúde na conduta social e terapêutica de indivíduos que possuem corpos anômalos que acarretam um modo de funcionamento atípico - físico ou mental. Tal interesse é produto da crescente objeção ao modelo biomédico para a caracterização do que se costuma chamar de deficiência - e que redescrevemos como desabilidade – e da problematização do estatuto nosológico de determinadas condições que até então eram consideradas doenças. Trata-se da ascensão do fenômeno de desmedicalização ou conversão cultural das condutas descritas como déficits patológicos em identidades sociais. A demanda pertinente seria se tal condição se trata de uma doença a ser tratada ou uma diferença a ser respeitada e cultivada. Método. A abordagem destas questões se dá pela pesquisa teórica através da análise de teorias da saúde, doença, desabilidade e da noção de autonomia. Resultados/conclusão. Parece-nos que a consideração da desabilidade como desvio estatístico, própria do modelo biomédico de Boorse, oferece pouco espaço para a reivindicação identitária, mas teorias que consideram a ação pragmática no mundo para a caracterização da doença e da desabilidade, como aquela de Nordenfelt, permitem a consideração da variação como diferença e exigem, em muitos casos, a problematização do conceito hegemônico de autonomia. Assim, entendemos que no tocante ao ensino na graduação dos cursos da saúde e às práticas de educação em saúde direcionadas aos usuários do SUS, a metodologia ativa de problematização baseada na educação experimental e democrática de Dewey e na pedagogia crítica de Paulo Freire se apresentam como possíveis estratégias a serem implementadas. Acreditamos que desta forma é possível a formação de profissionais mais reflexivos, críticos, capazes de trabalhar em equipe e aptos a favorecerem práticas de construção da autonomia, entendendo-a não como independência e soberania, mas como interdependência e liberdade de escolha, o que favorece que o estigma dos desabilitados seja dirimido e que o respeito à diferença se torne uma realidade.