Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Educação para a Colaboração Interprofissional em Saúde
Luisa Cela Coelho, Ivana Cristina Holanda Barreto

Resumo


No Brasil, a rápida modificação do perfil dos serviços de saúde após a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) impactou diretamente no perfil dos profissionais. De acordo com Andrade, Barreto e Bezerra (2008) a atenção médica tradicional se organizava a partir da lógica dos especialistas da área médica que tinha como método principal de trabalho a consulta individual. Enquanto que a atenção primária à saúde passou a trabalhar com a lógica do clínico geral somado a profissionais de outras áreas, constituindo equipes de saúde multiprofissionais que trabalham em busca de um objetivo comum: detecção de necessidades e o provimento de cuidados de maneira mais completa e ampliada aos usuários (Pinheiro e Mattos, 2006). A construção do Sistema Único de Saúde (SUS) trás muitas novidades para a sociedade brasileira. O sistema de saúde está baseado em princípios e valores inovadores: conceito ampliado de saúde, ação intersetorial, integralidade da atenção. Estes reordenamentos organizacionais e dos processos de trabalho no âmbito dos serviços de saúde provocaram alguns desafios para o campo de recursos humanos da área e para a formação de novos profissionais de ensino superior, uma vez que passa a exigir dos profissionais novas competências que até então não haviam sido introduzidas em suas formações. Outro aspecto importante é a compreensão do processo saúde-doença. Multifatorial: biológico, social, emocional, ambiental. De acordo com Barreto et al (2007) a formação profissional não acompanhou as mudanças significativas no sistema de saúde brasileiro, resultando numa baixa adesão de alguns grupos de profissionais aos princípios do SUS. A escassez de profissionais, a necessidade de otimizar os recursos disponíveis para o desenvolvimento das ações de saúde e, principalmente, a garantia do cuidado integral aos usuários são algumas questões que se apresentam como desafios para os trabalhadores e os gestores do sistema de saúde. Algumas experiências desenvolvidas em alguns países demonstram que práticas colaborativas são muito potentes no sentido de melhorar os resultados de saúde da população e aumentar o nível de satisfação. A relação entre a necessidade de educação interprofissional para o desenvolvimento de práticas colaborativas tem sido evidenciadas por alguns autores (WHO, Barr, D'Amour). As experiências desenvolvidas neste campo mostram que para que os profissionais de saúde trabalhem de forma colaborativa, faz-se necessário que tenham tido experiências de diálogo e troca de conhecimentos entre os cursos ao longo de sua formação para que as habilidades e os conhecimentos necessários sejam desenvolvidos e aprimorados. De acordo com Barr (2009) estudantes de diferentes profissões da saúde devem aprender juntos durante um certo período de tempo de sua graduação para desenvolver as habilidades necessárias para solucionar os problemas de saúde prioritários dos indivíduos e das comunidades, o que, em geral, exige o trabalho em equipe multiprofissional. Na década de 70, principalmente na Inglaterra e no Canadá, surgiu um campo de estudos e práticas que denominado Educação Interprofissional que nos últimos anos tem se disseminado bastante no Brasil. A educação interprofissional acontece quando estudantes de duas ou mais profissões compartilham de um mesmo processo de aprendizagem durante um certo período de tempo, desenvolvendo valores, conhecimento e habilidades comuns para permitir efetiva colaboração e melhorar a qualidade da atenção à saúde, além de ser fundamental para desenvolver habilidades do trabalho em equipe. É uma estratégia inovadora que poderá desempenhar um papel importante na atenuação da crise global dos trabalhadores da saúde, uma vez que desenvolve competências necessárias para enfrentar os desafios do sistema de saúde. O objetivo central da Edução Interprofissional é que a formação dos estudantes de graduação da área da saúde seja mais adequada, estimule e desenvolva o trabalho em equipe e a colaboração entre as diversas profissões que compõe o grupo de trabalhadores da saúde. De acordo com Gyamarti (1986 apud Aguilar-da-Silva et al 2011) a educação interprofissional possibilita integrar o cuidado especializado com cuidado holístico, opondo-se ao reducionismo e a fragmentação da visão especializada. No Brasil, desde os anos 50, a discussão acerca da formação dos profissionais de saúde já existia, principalmente, no âmbito dos departamentos de saúde preventiva e saúde comunitária. Após a consolidação do Sistema Único de Saúde está temática tornou-se central e, desde então, muitos esforços tem sido empreendidos no sentido de transformar o perfil dos profissionais de saúde tanto daqueles que já estão no serviços, como também dos estudantes em formação. Neste sentido, os pesquisadores e pesquisadoras do campo da educação interprofissional buscam identificar dimensões importantes do trabalho em equipe e obstáculos a prática colaborativa com o intuito de aprimorar os programas educacionais no sentido de fortalecer a cooperação entre os cursos, trabalhando nos estudantes a partir do reconhecimento da insuficiência do conhecimento de uma só categoria profissionais para enfrentar os desafios cada vez mais complexos do campo da saúde.