Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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DEFICIÊNCIA E IDENTIDADE: DOENÇA OU DIFERENÇA? DA ACADEMIA À ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Alice Lopes do Amaral Menezes

Resumo


INTRODUÇÃO: Em meio à crescente valorização da aparência corporal, é fundamental discutir o conceito de deficiência que acomete 800 milhões de pessoas no mundo. Os profissionais de saúde são atravessados por valores que transmitem através das práticas de cuidado. Logo, a Atenção Primária à Saúde (APS) torna-se espaço importante para construção de identidade da pessoa portadora de deficiência (PPD). A biomedicina relaciona deficiência a uma lesão e, portanto, ao campo da doença. O modelo social questiona esse pensamento e afirma: 1) “lesão é uma expressão biológica isenta de sentido” 2) a deficiência surge de um ambiente adverso à singularidade que impõe barreiras sociais restritivas, tais como discriminação e exclusão.OBJETIVO: Discutir o conceito de deficiência a partir da definição teórico-acadêmica, da análise da legislação brasileira e da visão dos profissionais da APS, representada no Brasil pela Estratégia de Saúde da Família (ESF).METODOLOGIA: Análise de artigos científicos e pesquisa qualitativa por meio de entrevistas com os profissionais de uma unidade da ESF no Rio de Janeiro.RESULTADO: Legislação brasileira acompanhou o debate teórico e político. Na prática clínica, os profissionais não apresentaram linguagem ou conduta discriminatória explícita, porém afirmaram não terem sido instrumentalizados para lidar com a PPD e o estigma e descreveram terem recebido uma formação de cunho exclusivamente biomédico.CONCLUSÃO: Apesar dos avanços institucionais e legislativos, o debate não chegou aos serviços mais próximos da população onde ainda predomina uma visão “biologicista” sobre as manifestações corporais. No entanto, não abordar os aspectos sociais em torno da deficiência e tratá-la apenas dentro de enquadre médico é reproduzir o modelo hegemônico mecanicista e contribuir para processo de medicalização social. É preciso estabelecer ações positivas para romper com as limitações da racionalidade biomédica que ajudam a definir identidades baseadas na corporeidade.