Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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DESAFIO DO SUS FRENTE AO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL
Osvaldinete Lopes de Oliveira Silva, Jane Márcia Oliveira Nunes

Resumo


Introdução: A transição demográfica devido ao aumento da expectativa de vida do brasileiro, embora seja uma importante conquista, impõe ao Sistema Único de Saúde (SUS) um grande desafio, na medida em que aumenta de forma significativa a demanda de assistência a esse grupo em todos os níveis de atenção à saúde, e esta não é acompanhada na mesma proporção pela ampliação da oferta de serviços. Embora o envelhecimento não seja sinônimo de doenças, as doenças, especialmente as crônicas, se manifestam de forma mais freqüente nesses indivíduos em função das alterações fisiológicas da idade associadas a outros fatores comportamentais e ambientais. O idoso utiliza mais serviços de saúde, as internações hospitalares são mais freqüentes e o tempo de recuperação é maior. Geralmente, as doenças exigem acompanhamento constante, cuidados permanentes, medicação contínua e exames periódicos. Considerando a Atenção Básica como principal porta de entrada do SUS e a Estratégia Saúde da Família como responsável pelo acompanhamento das condições de saúde dos usuários Residentes na área adscrita, o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde PET-Saúde com grupos tutoriais de caráter multiprofissional, tem contribuído para a efetivação de ações de saúde direcionadas para conhecer melhor esse grupo específico e suas necessidades, bem como desenvolver ações de saúde de forma a atender as demandas locais. Objetivo: Apresentar o perfil epidemiológico de uma população idosa atendida pela Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) Benjamin Asato em Campo Grande-MS e refletir sobre as demandas que esse perfil impõe ao serviço de saúde local. Métodos: Os dados apresentados referem-se aos dados preliminares de uma pesquisa quantitativa transversal sobre condições de vida e saúde de idosos de Campo Grande - MS que está sendo desenvolvida por acadêmicos, tutores e preceptores do PET-Saúde da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul envolvendo os cursos de Medicina, Nutrição, Psicologia, Farmácia, Odontologia e Fisioterapia em idosos atendidos por dez (10) Equipes Saúde da Família em quatro (4) UBSFs. Os resultados aqui apresentados referem-se apenas aos idosos de uma UBSF. São dados epidemiológicos secundários obtidos a partir das fichas A utilizadas pelos agentes comunitários de saúde de quatro Equipes da Saúde da Família da UBSF, que foram tabulados e analisados por estatística descritiva. Resultados: Foram analisadas as fichas A de 789 idosos residentes na região. Destes, 49,8% são do sexo masculino e 50,2% do sexo feminino, com idade média de 68,9 anos. 20,6% dos idosos são analfabetos e 3,5% dependentes fisicamente, ou seja, são cadeirantes ou possuem dificuldades de deambular. Quanto à prevalência de doenças, a maioria apresenta hipertensão arterial (59,6%), seguidos de 12,7% de diabéticos; entre os diabéticos 93% também são hipertensos e ainda, 3,2% possuem três ou mais patologias associadas. 0,85% dos idosos possuem algum tipo de câncer, 2,5% apresenta alguma deficiência, seja física, auditiva e/ou visual e 3,8% apresenta deficiência mental. Outras questões observadas referem-se ao alcoolismo, solidão, recusa em usar a medicação e a resistência aos atendimentos e visitas domiciliares. Esse quadro evidencia a desafiante tarefa de atender os idosos nas suas necessidades de saúde, sem mencionar as questões emocionais e financeiras que em geral, estão submetidos os idosos, especialmente aqueles de baixa renda, que dependem da aposentadoria e ainda são arrimo de suas famílias. Segundo Pereira (2010) diferentemente dos países desenvolvidos, no Brasil o envelhecimento populacional ocorreu rapidamente e em um cenário de profundas desigualdades sociais, não sendo acompanhado de melhorias na cobertura do sistema de saúde, nas condições de habitação, saneamento básico, trabalho e alimentação adequada. Isto aponta para a necessidade urgente de modificações estruturais que respondam as demandas do grupo etário emergente. O analfabetismo ainda é elevado entre os idosos apesar de estar em queda. Segundo Alvarenga (2011) no ano de 2000, o estado de Mato Grosso do Sul tinha 36% dos idosos como analfabetos, sendo que a taxa era maior entre as mulheres: 40,2% contra 32% do sexo masculino. Um aspecto positivo observado é que a maioria dos idosos convive com a família, embora exista a situação de solidão. Esse apoio é importante para minimizar os efeitos indesejáveis do estresse na saúde mental, aumentar a sensação de segurança para lidar com as limitações próprias do envelhecimento e com os problemas de saúde (PEREIRA, 2010). Segundo Alvarenga (2011) ressalta a importância do rede de apoio social, composta pela família, comunidade e profissionais de saúde. Nesse contexto a Estratégia Saúde da Família tem um papel fundamental na assistência às demandas de saúde deste grupo além do enorme desafio de promover ações de prevenção primária, secundária e terciária visando o envelhecimento saudável e ativo, acrescendo mais vida aos anos e não apenas mais anos de vida. Conclusão: as condições sociais e de saúde da população idosa como o elevado número de analfabetos e altos índices de doenças crônicas revelam a necessidade da implementação de práticas que priorizem as ações de promoção a saúde, concomitantemente com as ações de tratamento e recuperação em todos os níveis de atenção à saúde. Ressalta-se também a necessidade de instrumentalização da ESF para lidar com esta crescente e desafiadora demanda social do SUS. REFERÊNCIAS: ALVARENGA, MRM. et al. Rede de suporte social do idoso atendido por equipes de Saúde da Família Ciência & Saúde Coletiva, 16(5): 2603-2611, 2011. COSTA, M.FL, VERAS, R. Saúde pública e envelhecimento. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(3): 700-701, mai-jun, 2003. PEREIRA,RJ et al. Análise do perfil sociossanitário de idosos: a importância do Programa de Saúde da Família. Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 5-15.