Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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DESAFIOS NA ABORDAGEM A GESTANTE ADOLESCENTE DURANTE O CURSO DE GRADUAÇÃO, UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Larissa Rosado Pinto

Resumo


CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA: O presente Relato de Experiência refere-se ao contato de uma discente do sexto período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Bahia com gestantes adolescentes durante três momentos do curso de graduação. Surge da necessidade sentida pela estudante de aprofundamento teórico-prático das temáticas abordadas em sala relacionadas à saúde da mulher, com enfoque em gravidez na adolescência, cujo processo de ensino-aprendizagem foi desenvolvido durante dois componentes curriculares do curso, e na prática de um Grupo de Gestantes, realizada dentro do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde da Família (PET – Saúde da Família), do qual a autora foi uma das responsáveis, tanto pelo projeto quanto pela execução, juntamente com duas estudantes de psicologia. Diante disso, coloca-se em foco a conduta dos graduandos frente à repercussão da gestação em idade precoce na saúde da mulher. Espera-se com esse relato expor os desafios encontrados pela estudante no alcance de um atendimento integral às gestantes adolescentes diante das necessidades identificadas, com o propósito de uma reavaliação da abordagem temática nos cursos de graduação em Enfermagem. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A descrição da experiência segmenta-se em três etapas que delinearão também os caminhos metodológicos escolhidos em cada um dos momentos que se somam para se chegar ao relato atual. A primeira etapa trata-se do atendimento em consultas de pré-natal realizadas durante o quarto período do curso de graduação, a segunda etapa é representada pelo segundo momento em que são trabalhadas as consultas de pré-natal e a nova abordagem que ganham durante o sexto período, e por último, a terceira etapa, que trata-se da execução do Grupo de Gestantes. Na primeira etapa, consultas de pré-natal durante do quarto período, utilizou-se como caminho metodológico a Sistematização de Experiências, que tem como proposta facilitar o envolvimento de atores em processos de aprendizagem e geração de novos conhecimentos a partir de experiências, dados e informações anteriormente dispersas, de forma que desenvolvam as suas capacidades para tomarem melhores decisões, cada dia com crescente autonomia. Envolve o entendimento de que a própria ação prática dos envolvidos pode gerar informações e dados, sugerindo alternativas de ação ou critérios de atuação (BARNECHEA, 2002 in ECKERT, 2008). No primeiro momento as dificuldades eram grandes, faltava habilidade no contato com a população, na lida com situações adversas, como não aceitação da gestação ou uso de drogas, por exemplo, e no desenvolvimento da própria consulta, que exigia maior tempo das gestantes. A segunda etapa da descrição da experiência, consultas de pré-natal durante o sexto período, ganha uma nova abordagem, pois traz em si a experiência já vivenciada anteriormente, tornando mais fácil essa lida com as adolescentes grávidas, apesar de ainda perceber-se uma defasagem na abordagem do tema apoio psicoemocional, extremamente necessário neste período da vida da mulher, independente desta ser ou não uma gestação planejada e desejada. O método adotado nesta segunda etapa foi a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), dotada de cinco etapas que permitem, assim como a sistematização de experiências, que se faça uma análise crítica diante de cada caso facilitando a elaboração de condutas adequadas. Como última etapa, aparece o Grupo de Gestantes, que com encontros semanais trabalhava não apenas a exposição de temas relevantes aos cuidados que devem ser tomados no período de gestação e após o nascimento do bebê, mas com a partilha de experiências vividas, além de expectativas, anseios e dúvidas das mulheres grávidas ou em período puerperal integrantes da comunidade. A ciência atualmente é capaz de trazer conhecimentos de medidas para promoção de uma gestação saudável, cuidados básicos de grande valia e simples execução que muitas vezes são negligenciados pela falta de referencial. Apesar da importância inquestionável destes esclarecimentos, é importante ressaltar que o trabalho educativo precisa alcançar outras demandas para ser realmente efetivo. Como preconiza o Manual de Pré-natal e Puerpério publicado pelo Ministério da Saúde, Brasília – DF 2006, “entre as diferentes formas de realização do trabalho educativo, destacam-se as discussões em grupo, as dramatizações e outras dinâmicas que facilitam a fala e a troca de experiências entre os componentes do grupo”. A experiência trouxe a autora um outro olhar de saúde, o da psicologia, o que auxilia na construção do principio da integralidade do SUS para a sua vida profissional, além de ser extremamente importante para as adolescentes o partilhar de sentimentos e o esclarecimento de dúvidas. EFEITOS ALCANÇADOS: A soma das três experiências descritas traz a conclusão de que a falta de habilidade necessária para fornecer uma atenção integral às adolescentes em período gestacional que vise não somente orientar, mas também acolher e perceber as demandas individuais de saúde e informação que necessitam, faz com que a gravidez, que por si só já é considerada de risco, tome proporções maiores no que diz respeito à saúde e qualidade de vida daquela futura mãe e, consequentemente, do seu filho. Segundo o Manual de Pré-natal e Puerpério – Ministério da Saúde -, a maturação sexual dissocia-se da competência social e econômica e, muitas vezes, da emocional, porque estas ocorrem mais tardiamente, sendo fator de desvantagem para mães e pais adolescentes no seu contexto de vida. Portanto, é fato que adolescentes grávidas necessitam de atenção especial independente de ser ou não uma gravidez desejada. Além disso, existem ainda os fatores que influenciam na aceitação da gestação precoce indesejada, tais como costumes familiares, valores morais da sociedade e dificuldades econômicas. As experiências possibilitaram a reflexão de que o contato profissional deve ser suficientemente qualificado a ponto de, além de prestar assistência aos riscos que são trazidos naturalmente por uma gestação precoce, conseguir atender às demandas psicossocioespirituais da adolescente, levando em consideração sua aceitação da gestação, o apoio familiar, do parceiro e da comunidade, capacidade de entender e possibilidade de seguir as orientações recebidas. RECOMENDAÇÕES: Observa-se diante dos dois pontos descritos como desafiadores, apoio psicoemocional às gestantes e execução das atividades de rotina dos serviços de saúde, uma melhora ao longo das atividades relatadas, o que salienta a importância das atividades em campos de prática durante a graduação em que o próprio estudante é responsável pela execução de consultas e atividades educativas de forma a estar cada vez mais familiarizado com o serviço de saúde, com a população irrestrita e com situações desconhecidas, permitindo autonomia do futuro profissional, capacidade de resolução de problemas e construção de conhecimento em busca da integralidade da atenção. REFERÊNCIAS Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada – manual técnico. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas – Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 163 p. color. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) – (Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Caderno nº 5) MUNARI, B. D.; RODRIGUES, A. R. F. Enfermagem e grupos. Goiânia: AB, 1997.(a) ECKERT, Cordula. Orientações para elaboração de sistematização de experiências. Porto Alegre: EMATER / RS – ASCAR, 2009. 46 p.