Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
Doença Falciforme no Estado do Pará: Algumas Abordagens Sobre Vulnerabilidade, Representação e Cotidiano Social
Ariana Kelly da Silva, Hilton Pereira Silva

Resumo


A Doença Falciforme é um agravo que acomete um grande número de pessoas no Estado do Pará. Entretanto, a representação social dos portadores da doença por vezes é negligenciada, tornando as limitações de acessibilidade e acesso aos serviços de saúde um elemento complicador ao bem-estar do grupo. O objetivo deste trabalho é abordar os aspectos biossociais vivenciados por indivíduos com Anemia Falciforme (AF), entendida como um fenômeno biocultural, segundo as categorias de representação, vulnerabilidade e cotidiano social, em um grupo atendido no hemocentro estadual de referência (HEMOPA), analisando as diversas sociabilidades e visões de mundo nas quais os sujeitos estão inseridos. A pesquisa envolve uma perspectiva bioantropológica e utilizou o método etnográfico para acompanhar as rotinas e experiências de vida de pessoas que convivem com AF, buscando compreender como os sujeitos percebem o agravo, como se representam socialmente enquanto grupo vulnerabilizado, e quais as suas estratégias adaptativas. Foram realizadas 40 entrevistas extensivas com portadores ou seus responsáveis, de ambos os sexos, com faixa etária entre 05 e 49 anos, a maioria proveniente do interior do Estado, representando 10% do total de pacientes do hemocentro. A compreensão da AF pelos entrevistados se centra nos aspectos biológicos e sociais. As pessoas com AF entendem o agravo como “doença hereditária que vem do negro”, vista como um problema que está atrelado a um “passado biológico” que é “negativo” e, por vezes, “punitivo”. As falas anunciam uma percepção sobre a AF que incorpora o aspecto biológico/genético, resultante de processos microevolutivos ocorridos no continente africano há milhares de gerações, uma vez que identificam categorias associadas a “cor” dos indivíduos e a origem da doença enquanto elemento “ancestral”. Porém, não ignoram os aspectos socioculturais regionais da experiência de viver com AF em um país desigual, onde o acesso aos serviços de saúde apresenta inúmeras barreiras. As condições instrumentais de “não acesso” ou de “limitação à acessibilidade” não apenas aos serviços de saúde, mas também a emprego, moradia, educação, lazer, informação e qualidade de vida, trazem consequências que impactam diretamente a saúde, tornando os portadores mais suscetíveis socialmente. A compreensão do contexto local do agravo indica a necessidade de fortalecer políticas específicas, de cunho multidisciplinar, com a sensibilização do Estado para fornecer atenção diferenciada às pessoas com AF no Pará, garantindo a equidade na utilização do Sistema Único de Saúde.