Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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FORMAÇÃO ANTIMANICOMIAL: A CLÍNICA DO AT COMO FERRAMENTA NA DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
Mayara Squeff Janovik, Isaquiel Macedo da Rosa, Laura Wottrich, Renata Cardoso Centena

Resumo


O pensamento manicomial é uma construção histórica e está fortemente arraigado em nossa cultura. Inclusive, podemos encontrá-lo nos mais variados espaços e práticas profissionais no campo da saúde, sendo o hospital psiquiátrico sua principal referência como instituição de suporte e defesa da assistência asilar. Entretanto, no Brasil, a partir da lei da Reforma Psiquiátrica, as ações e políticas no campo da saúde mental devem ser orientadas a partir de uma atenção à saúde produzida dentro dos territórios de vida dos sujeitos, utilizando, entre outros espaços de cuidado, os serviços substitutivos em detrimento ao modelo hospitalocêntrico. Neste contexto, quatro residentes em Saúde Mental Coletiva foram convocados a participar ativamente no processo de desinstitucionalização no Hospital Psiquiátrico São Pedro (RS), retomado recentemente, auxiliando quatro pessoas asiladas há décadas neste manicômio nas suas buscas de outros modos de convívio social e interação com o mundo. Dessas pessoas, três manifestavam o desejo de sair do hospício e construir novas maneiras singulares de viver, e uma quarta, avaliada pela equipe da unidade de moradia como alguém que teria condições morar e viver fora do espaço da instituição total. A prática do Acompanhamento Terapêutico (AT) foi utilizada pelos residentes nesse processo de desinstitucionalização, tendo em vista que ela pode ser entendida como uma das ferramentas úteis na produção de um cuidado referenciado por uma clínica ampliada; portanto, contrária ao pensamento manicomial. Dessa maneira, observamos uma convergência entre clínica e política na produção desse cuidado ampliado, o que corrobora com o enfrentamento dos desafios inerentes aos do processo de Reforma Psiquiátrica, e com a formação preconizada pela Residência Integral Multiprofissional em Saúde Mental Coletiva da UFRGS. Foi necessário um trabalho institucional importante, mas o diferencial desta experiência foi que, através do AT, tornou-se possível o comprometimento em primeiro lugar com o usuário e, a partir do seu desejo, foi que se tentou encontrar brechas no funcionamento do manicômio para a criação de outras possibilidades de existir no mundo. Desta forma, em conjunto, tornou-se possível que os trabalhadores em saúde envolvidos com este trabalho contribuíssem na construção e/ou descoberta de espaços possíveis na sociedade para esses usuários em saúde mental percorrerem a cidade.