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O mundo presenciou, nos últimos anos, uma intensa e radical transformação tecnológica que tem proporcionado o crescimento acentuado, a difusão, produção e acesso à informação, sobretudo através da Internet (Giddens, 2002). O aumento do acesso à Internet não tem ocorrido de forma semelhante em todo o planeta. No Brasil a maioria dos excluídos digitais tem baixa escolaridade e renda e reside em comunidades populares das grandes cidades e nas áreas rurais. Eles não têm condições financeiras de possuir um computador com acesso à linha telefônica, nem os conhecimentos mínimos para navegar no mundo virtual (Barbosa, 2009). Para desenvolver atividades voltadas para a educação e uso crítico e criativo das tecnologias de comunicação e informação, foi criado no final de 2009 o Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (LAISS). Este Laboratório, vinculado ao Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) recebe moradores do Complexo de comunidades populares situadas no bairro de Manguinhos, na cidade do Rio de Janeiro. Tratam-se de doze comunidades de baixa renda, que totalizam cerca de 40 mil pessoas, localizadas no entorno da FIOCRUZ. Desde que foi criado, o LAISS tem oferecido cursos de inclusão digital que não se limitam a possibilitar a operação de computadores e suas linguagem básicas. Eles visam o desenvolvimento de competências que empoderem o cidadão, particularmente em temas relacionados com a saúde (Garbin, et all. 2008). Para tanto os alunos têm acesso e produzem informação que é distribuída em rede graças às atuais tecnologias de informação e comunicação (TICs). Uma das metas do LAISS é desenvolver metodologias educacionais voltadas para as necessidades dos alunos que levem em consideração o contexto social em que estão inseridos. Este ano foram desenvolvidos cursos para capacitação pedagógica de alunos de graduação de informática e estagiários de nível médio que atuam como instrutores ou facilitadores dos cursos oferecidos às comunidades de Manguinhos. Estes jovens trazem consigo uma deficiência comumente encontrada nas escolas tradicionais: a ênfase no conteúdo e o abandono do processo de construção coletiva do conhecimento. Um dos desafios do projeto tem sido desconstruir os paradigmas educacionais tradicionais enraizados em nossa sociedade que se manifestam na postura do professor na relação que estabelece durante o processo de ensino-aprendizagem. No primeiro ano de existência, o LAISS ofereceu cursos de informática sem que esta preocupação pedagógica estivesse presente. A demanda foi enorme. Em um dia de inscrição cerca duzentos moradores de Manguinhos vieram até o laboratório e inscreveram-se em um dos cursos. Com o tempo, a evasão foi sendo identificada. Esta perda de interesse pelo curso talvez esteja relacionada com a metodologia então adotada que enfatizava o conteúdo. No segundo ano, a equipe do LAISS tem procurado sensibilizar o instrutor/facilitador a respeito das teorias de aprendizagem destacando o impacto que sofreram com as inovações tecnológicas contemporâneas. Assumindo esta postura, o LAISS pretende utilizar algumas aplicações da Internet e suas nuances, inserindo-as nas atividades, interesses e necessidades de seus usuários - moradores das Comunidades de Manguinhos.Este trabalho visa apresentar, analisar e avaliar uma experiência de comunicação popular e cidadania desenvolvida no LAISS recentemente. Em 2011 foi realizada uma experiência de comunicação popular e cidadania. Nesta oportunidade, o LAISS abriu suas portas para alunos do Curso de Saúde Comunitária oferecido pelo Instituto Oswaldo Cruz, unidade técnico-científica da FIOCRUZ. Para a realização do trabalho final deste curso foi organizada uma disciplina de edição de vídeo, com 10 horas de duração. Foram constituídas 8 turmas contendo em média 10 alunos cada. A maioria deles reside nas Comunidades de Manguinhos. O objetivo desta disciplina foi familiarizar os alunos com a edição de vídeo abordando os temas tratados no Curso de Saúde Comunitária. Assim cada turma foi convidada a produzir um material imagético abordando um dos temas apresentados no Curso de Saúde Comunitária, a saber: água, nutrição, violência e drogas, hanseníase, lixo, tuberculose, insetos como vetores de doenças, HIV e doenças sexualmente transmissíveis. Durante as aulas desta disciplina, os alunos aprenderam a capturar imagens e vídeos da região onde vivem utilizando na maioria das vezes a máquina fotográfica e a filmadora disponíveis no telefone celular. Eles também pesquisaram na Internet em diferentes sites de busca, obtendo mais material. Em seguida, conseguiram transferir estas mídias para o computador e para o software escolhido, construindo um vídeo# sobre o tema proposto. A idéia desta produção inspirou-se no caso de um rapaz, morador da comunidade de Manguinhos, que fez um vídeo (http: //www.youtube.com/watch?v=KOKS_apCwzA) mostrando sua conversa com o ex-presidente Lula e o governador Sérgio Cabral, sem que eles soubessem da gravação, e o disponibilizou na Internet. O rapaz questionou a não abertura da infraestrutura de esportes para a comunidade alegando que ficavam fechadas mesmo no fim de semana. Capturou a arrogância e descaso do atual governador e a preocupação do ex-presidente com a repercussão política da situação comunicada pelo jovem. Segundo consta na reportagem sobre este acontecimento, assistido por mais de 600 mil pessoas, as reivindicações deste jovem foram amplamente difundidas e posteriormente atendidas. Este caso revela uma possibilidade de uso das TICs para a divulgação de problemas vivenciados pelas comunidades carentes, ampliando o sentido de cidadania. Durante a realização desta disciplina, os alunos foram acompanhados semanalmente por instrutores e facilitadores. Na oportunidade, os alunos receberam orientações, informações e sugestões que foram ou não aproveitadas. Por fim, alguns filmes foram disponibilizados na Internet. Com isso, os alunos aprenderam como as TICs podem auxiliá-los na divulgação de seus problemas e realidades. Eles observaram na prática como as TICs podem ajudá-los na luta por seus direitos e na denúncia da realidade vivida. Neste sentido, a perspectiva adotada segue em linhas gerais as preocupações sugeridas por Martín-Barbero que em entrevista recente declarou: "La educación liberadora consiste, como decía Freire, en que la gente aprenda a contar su historia, no aprender a leer, sino sobre todo aprender a escribir"#. Os vídeos produzidos foram apresentados na cerimônia de formatura do Curso de Saúde Comunitária e assistido por professores, parentes dos alunos e autoridades da FIOCRUZ, provocando reações emotivas devido à natureza do trabalho realizado. Com isso, o LAISS começou o ano de 2012 com sua equipe sendo capacitada através de leituras e discussões em reuniões periódicas. Outra conquista foram 20 bolsas para pessoas da Comunidade de Manguinhos poderem participar de projetos de pesquisa ao longo do ano.Esta foi a primeira experiência do LAISS que segue os parâmetros de uma educação construtivista (Coll, et all. 2006). Uma experiência que pretende ser apresentada, analisada e avaliada durante o 10º Congresso Internacional da Rede Unida.