Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
NÚCLEO DE ATIVIDADES CULTURAIS: CONSTRUINDO UM ‘DE DENTRO PARA FORA’
José Leonardo da Silva

Resumo


Nome dos autores: Salette Maria Barros Ferreira; Marcelo Santos Cruz; Viviane Tinoco Martins; José Leonardo da Silva; Juliana Sales, Bianca Valle; Thoya Lindner MosenaO presente trabalho tem o objetivo de descrever um projeto de pesquisa, financiado pela SENAD, em parceria com o PROJAD/IPUB, que tem como finalidade potencializar o Centro de Convivência desta instituição, através da difusão das técnicas de oficinas terapêuticas para usuários de álcool e outras drogas. As oficinas são dispositivos clínicos que tem como característica um fazer pautado em uma atividade, que proporciona uma interação coletiva, promoção de autonomia, reconstruindo vínculos sociais muitas vezes perdidos. O projeto propõe: desenvolver as atividades de oficinas terapêuticas, seminários internos semestrais junto aos alunos de graduação e pós-graduação, qualificando-os para a rede pública de assistência; desenvolver ações de capacitação da rede de CAPS-ad, através de Work-shop e seminário; elaborar uma cartilha sobre o trabalho com oficinas terapêuticas para instrumentalizar a formação dos profissionais da rede, a partir de uma abordagem interdisciplinar; implantar o Núcleo de Atividades Culturais (NAC) no Centro de Convivência do PROJAD, através do dispositivo do Acompanhamento Terapêutico. O NAC pretende contribuir para a reinserção social destes pacientes, através de atividades culturais extramuros (exposições, cinema, caminhadas, pontos turísticos, entre outros), promovendo a difusão dos espaços de cultura da cidade. Para isso, o projeto também conta com a elaboração de um blog, possibilitando que esta população se aproxime do universo virtual tão presente na contemporaneidade. Essas atividades são precedidas de reuniões com os pacientes e os acompanhantes, onde se recolhe os efeitos desse trabalho de circulação, além de construção coletiva da próxima saída. Palavras-chave: toxicomania; oficinas terapêuticas; acompanhamento terapêuticoIntroduçãoO Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Álcool e Outras Drogas (PROJAD) foi criado em 1996 para desenvolver atividades de pesquisa, ensino e atendimento a usuários de álcool e outras drogas e também aos seus familiares. Este é um serviço que está inserido na rede de serviços do Município do Rio de Janeiro, trabalhando em parceria especialmente com os CAPS-Ads e com o Instituto Municipal Philippe Pinel. Sua principal especificidade é justamente atender aqueles sujeitos para os quais a toxicomania está associada a comorbidades psiquiátricas (como as psicoses).Desde sua criação, e em compatibilidade com resultados de pesquisas de outros serviços, nos deparamos com a dificuldade que esses pacientes apresentam de se manterem em tratamento. Além disso, geralmente trata-se de sujeitos que estão de alguma forma à margem no território urbano, no mercado de trabalho e mesmo no convívio social e familiar, marcados que estão pelo uso de drogas. Entre os fatores que parecem contribuir para o agravamento desta situação, encontram-se o desemprego, o emprego com vínculo instável ou temporário e a ausência de opções de atividades culturais e esportivas em suas comunidades de origem. Este conjunto de fatores torna esta população especialmente exposta aos riscos da convivência com o tráfico e o consumo prejudicial de álcool e outras drogas. Um dos objetivos dos serviços de assistência, em consonância com as propostas da Reforma Psiquiátrica, é justamente favorecer a reinserção e a reintegração social e familiar desta população.Entre aqueles que procuram tratamento, mesmo quando se apresentam motivados, a dificuldade de inserção na rede de sociabilidade e o desemprego tornam a ociosidade um grave obstáculo ao sucesso do tratamento. Sabemos que as situações provocadas pelo uso indevido e dependência de drogas provocam a fragilidade e/ou rompimento dos laços sociais; no mínimo, induzem a seu esgarçamento. Em estudo realizado anteriormente no serviço e com o apoio da SENAD (SAAD, AC; COSTA, NR; BARBEITO, MM; CRUZ, MS. 2004) identificou-se que a parcela de usuários de drogas mais jovens e com menor escolaridade é a que tem maior dificuldade de aderir ao tratamento.Para minimizar esta dificuldade, foi essencial a inclusão, entre os recursos oferecidos pelo PROJAD, de um Centro de Convivência. Há cerca de cinco anos ali se desenvolvem oficinas terapêuticas de música, de mosaico, de culinária, de comunicação, de fotografia e, mais recentemente, de linhas (tricô, crochê, fuxico, etc). As oficinas caracterizam-se pela reunião de um grupo de pessoas em torno de um fazer, com a produção de um objeto concreto de forma coletiva. As oficinas oferecem não apenas uma alternativa de contato com outros, mas pode permitir o mapeamento de um outro percurso em relação ao uso de drogas, constituindo estratégia que visa a uma maior implicação do sujeito no seu tratamento. Além disso, as oficinas oferecem como produto final produções estéticas como exposições fotográficas, músicas, peças de mosaico que podem conferir novos valores aos sujeitos, que podem experimentar o reconhecimento de um lugar social diferente, desta vez, como artistas.As direções apontadas pela política de saúde mental para o cuidado com a população em situação de uso indevido de drogas, em curso desde o início de 2002 (BRASIL, 2002) dirigem a ações assistenciais que privilegiem os espaços de sociabilidade e as alternativas de reinserção, a exemplo também do que vem sendo construído no restante do campo da saúde mental (BRASIL, 2002) e apontado pelas organizações internacionais. (OMS, 2001). Entretanto, os cursos de formação na área da saúde e afins não se encontram ainda preparados para responder à demanda que suas ações irão solicitar. Quando estas se referem ao campo de atenção ao uso abusivo de drogas, estas dificuldades se tornam ainda maiores (CRUZ, M., 2001).Ainda que as oficinas, enquanto dispositivo terapêutico, apontem para a possibilidade de seus participantes constituírem-se também “artistas”, sabemos que a real reinserção social de pacientes no campo da saúde mental é ainda um grande desafio para o nosso campo de atuação. Partimos deste impasse para criar o Núcleo de Atividades Culturais do PROJAD.Material e metodologiaO Núcleo de Atividades Culturais (NAC) dirige-se aos pacientes do PROJAD. Trata-se de uma atividade de acompanhamento terapêutico realizado com um grupo de pacientes da instituição que apresentem o desejo de passear pela cidade do Rio de Janeiro. Este grupo se encontra semanalmente no pátio do IPUB (Instituto de Psiquiatria da UFRJ) para definir o local, percurso, data e horário do próximo passeio e para conversar sobre os efeitos do passeio realizado na semana anterior. Este Núcleo é desenvolvido por três acompanhantes terapêuticos.Rompendo com a lógica hospitalocêntrica que predominou no campo da psiquiatria e da saúde mental e, em especial, no campo das toxicomanias, o NAC inova em sua estratégia de intervenção por privilegiar os espaços extramuros de produção de novos sentidos e investir na inserção dos sujeitos toxicômanos no território da urbe.Resultados e discussõesDesde seu início, em fevereiro de 2011, já realizamos saídas para uma série de centros culturais do Rio de Janeiro, sempre considerando as propostas construídas coletivamente pelo grupo de pacientes e acompanhantes.Como primeiros efeitos destas atividades extramuros, observamos a partir das narrativas dos próprios integrantes do NAC um misto de surpresa, alegria e orgulho pelos novos e agora possíveis itinerários percorridos. Além disso, seus familiares têm reconhecido e testemunhado a importância dessa circulação acompanhada pela cidade.Outros efeitos inicialmente observados são as novas formas de enlace social a partir da experiência coletiva de ampliação do seu universo, o que vem produzindo efeitos também singulares e novas formas de andar a vida.ConclusãoAcredita-se que, até o momento, os objetivos primeiramente traçados vem sendo atingidos em função do retorno dos pacientes e familiares anteriormente descrito. O projeto propõe-se a desenvolver as atividades de oficinas terapêuticas, seminários internos semestrais junto aos alunos de graduação e pós-graduação, qualificando-os para a rede pública de assistência; desenvolver ações de capacitação da rede de CAPS-ad, através de Work-shop e seminário; elaborar uma cartilha sobre o trabalho com oficinas terapêuticas para instrumentalizar a formação dos profissionais da rede, a partir de uma abordagem interdisciplinar; implantar o Núcleo de Atividades Culturais (NAC) no Centro de Convivência do PROJAD, através do dispositivo do Acompanhamento Terapêutico. A equipe possui supervisão semanal e seminário de pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.BRASIL. Relatório Final da III Conferencia de Saúde Mental. Ministério da Saúde, Brasília, 2002.BRASIL. A Política do Ministério da Saúde para a atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Brasília, Ministério da Saúde, 2004.CRUZ. S. M. Formação de profissionais para o atendimento a usuários de drogas. Tese de Doutorado: Universidade Federal do Rio de janeiro, Instituto de Psiquiatria, 2001. (mimeo)CRUZ.S.M; EAST, L. A; COSTA, N; SILVA, O E; SILVA, S.T; BRAGA, R.M; INEM, L.C. MARTINS, T. V; RAMOS, A; FERREIRA, S.M.B. Criação de um serviço de atendimento a usuários de drogas em ambulatório do Instituto de Psiquiatria da UFRJ: experiência de dois anos; em Informação psiquiátrica, 18 (1) : 17-22, 1999.OMS. Relatório sobre a Saúde no Mundo – Saúde Mental. 2001.SAAD, AC; COSTA, NR; BARBEITO, MM; CRUZ, MS. Abandono e adesão no tratamento para dependência de drogas numa instituição universitária (PROJAD/IPUB/UFRJ). Revista Brasileira de Psiquiatria 26(supl II): 3, 2004.