Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O portfólio avaliativo como dispositivo para gestão de processos de educação permanente em saúde
Margarete Isoton de David, Elizabete Bertele

Resumo


As diversas iniciativas que vêm produzindo mudanças no ensino tendem a apontar limites na capacidade dos mecanismos tradicionais de avaliação, seja para dimensionar os efeitos no processo ensino-aprendizagem, seja para a gestão. Quando a escolha que embasa os processos educativos é a Educação Permanente em Saúde, esses limites são pronunciados, por decorrência da relação do ensino com o mundo do trabalho, da produção de significados e mesmo pela proposição de uma gestão em ato, que busca vincular a condução do processo ao próprio movimento da aprendizagem. Em experiência de formação com o tema da gestão participativa em políticas públicas e saúde, com cursos de aperfeiçoamento e especialização, a coordenação deparou-se com o desafio de uma avaliação que tivesse potência de fortalecer os processos de aprendizagem e de gestão. Entre os mecanismos escolhidos, foi incluído o portfólio avaliativo, distribuído aos estudantes, que incluiu um caderno de registros da aprendizagem. Este ensaio busca analisar descritivamente a experiência de avaliação e os efeitos na condução do processo. A base da avaliação do ensino-aprendizagem e do curso tornou-se o portfólio e as oficinas de avaliação, nas diversas etapas dos cursos. No portfólio, em particular no caderno de campo, a qualidade e a intensidade dos registros têm mobilizado os tutores de aprendizagem e a coordenação do curso. A análise da experiência demonstra uma potência singular desse dispositivo de avaliação. Uma primeira categoria marcadora dessa potência é a capacidade do dispositivo de descrever os diferentes tempos da aprendizagem: sala de aula e mediação com a prática, no cotidiano do trabalho. Uma segunda categoria marcadora é a capacidade desse dispositivo de tornar visível à transversalidade entre os dois tempos. Além disso, o portfólio constitui a dimensão processual da aprendizagem, na medida em que o registro permite sucessivas revisões e, portanto, a ressignificação do conhecimento. Além dessas categorias, destaca-se a potencialização da dimensão subjetiva da aprendizagem, a ampliação da potência de intervenção dos estudantes e o caráter matricial dos conhecimentos especializados para a composição de aprendizagens significativas coladas ao cotidiano do trabalho. Por fim, o portfólio tem sido um excelente dispositivo para construir tecnologias de gestão participativa e de intervenção, inclusive trabalhos de conclusão implicados eticamente com a formação e o protagonismo dos sujeitos. A conclusão que as evidências da análise embasam é relativa à potência singular que esse dispositivo tem para a avaliação dos efeitos do processo de ensino nos diferentes sujeitos da cena da aprendizagem (estudantes, docentes, tutores e gestores dos cursos) e para subsidiar a tomada de decisões para a condução do processo de ensino, que pôde assumir-se como um processo aberto, construído em ato.