Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O Dispositivo da Transexualidade: discursos e práticas no campo da saúde pública no Estado do Rio de Janeiro
Maria de Fatima Lima Santos

Resumo


Dissertar sobre a transexualidade é discutir como a cultura ocidental tem construído e naturalizado categorias como corpo/sexo/sexualidade. Sua visibilidade é um fenômeno contemporâneo. Nas últimas décadas, várias (os) transexuais ganharam projeção, alargando as fronteiras do gênero estabelecidas pela dicotomia feminino/masculino A presença e visibilidade do fenômeno trazem a necessidade de discutir o tema a partir da perspectiva da Saúde Coletiva. No contexto cultural brasileiro, a questão da transexualidade tem ocupado cada vez mais espaço. Além da mídia, o fenômeno passou a pautar o campo da Saúde Pública, entrando para a lista de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste sentido, o campo da Saúde Pública vem incorporando a temática trans aos serviços de saúde, compondo, através de um processo histórico, espaços de atendimento às (aos) transexuais. A presente proposta tem como objetivos analisar e discutir os serviços de atendimento na cidade do Rio de Janeiro: o Ambulatório de Endocrinologia Especial (Transtorno de Identidade de Gênero) do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE), o Hospital Clementino Fraga Filho (UFRJ) – este em processo de extinção e o Hospital Pedro Ernesto (UERJ). Constitui um fragmento de pesquisa de doutorado que teve como centro a construção do dispositivo trans no âmbito dos serviços de saúde. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com diversos (as) transexuais bem como com os profissionais de saúde envolvidos nos serviços (médicas (os), enfermeiras (os), psicólogas (os), fonoaudiólogas (os), entre outros). Pode-se constatar que, mesmo com os avanços produzidos, estes se constituíram de formas diferenciadas, seja em relação às técnicas cirúrgicas, às abordagens psicológicas, aos profissionais envolvidos, ao tempo de espera e à realização das cirurgias, ao acompanhamento pós-cirúrgico, à assessoria jurídica, entre outros. Percebe-se que a configuração dos Serviços de Assistência às (aos) transexuais não ocorreu de forma lisa e homogênea. Como espaços institucionais são marcados por relações de poder/saber refletindo-se em disputas conceituais e técnicas. Além disso, o objeto que corta transversalmente esses espaços – a transexualidade - e com ela toda discussão sobre corpo, gênero, sexualidade reveste-se de preconceitos que invadem os espaços e práticas profissionais.