Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O dito e o não dito do discurso oficial frente ao retardo do inicio da amamentação : Uma hermenêutica da Política de Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno
Rosana de Carvalho Castro

Resumo


No período pós-guerra, meados dos anos 40 do século XX, com os avanços das tecnologias médico-científicas, o cuidado à mulher no ciclo gestar, partir, nascer e amamentar começa a deixar o cenário domiciliar para o hospitalar. Em consequência, o aleitamento materno passa a ser substituído pelo aleitamento artificial, por ser considerado uma solução saudável, moderna e cientificamente aceita como substituto do leite materno. Resultando, assim, na problemática do desmame precoce em meados dos anos 70. Esse desmame foi favorecido pela crescente influencia comercial das fábricas de leites industrializados. Na década de 1980, começaram a ser publicados estudos de evidências científicas comprovando a importância e os benefícios do aleitamento materno exclusivo em prol da redução dos riscos de mortalidade infantil. O intenso resgate da amamentação e valorização dos benefícios do aleitamento materno para a mulher e a criança, resultaram em avanços na reformulação das práticas hospitalares, com o enfoque no incentivo e proteção à amamentação. A partir desse período começaram a ser reformuladas as diretrizes das políticas públicas de saúde na área de Aleitamento Materno, através da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Tendo como marco, a publicação da “Declaração Conjunta” que lança a Proteção, Promoção e Apoio ao Aleitamento Materno como diretrizes para os serviços de saúde materno-infantis. Essa declaração formaliza seu compromisso com a proposta da implantação dos Dez Passos para o sucesso do aleitamento materno da Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Os serviços de saúde materno-infantis se propõem em mudar suas rotinas e treinarem as equipes de saúde para estimular a prática do aleitamento materno, tendo como materiais utilizados para esses treinamentos, nos últimos 30 anos, os seguintes manuais: a) Manejo e Promoção do Aleitamento Materno: Curso de 18 horas para equipes de saúde; b) Aconselhamento em Amamentação: um curso de treinamento”, composto de 03 volumes: o Guia do Coordenador, o Guia do Treinador e o Manual do Participante ; c) Evidências Científicas dos dez passos para o sucesso no aleitamento materno” e d) “Iniciativa Hospital Amigo da Criança: revista, atualizada e ampliada para o cuidado integrado” composto de 05 módulos. No entanto, com a problemática da Síndrome de Imunodeficiência Humana Adquirida (AIDS) as mulheres, gestantes, parturientes e puérperas soropositivas para o HIV foram afastadas da política de incentivo ao aleitamento materno, uma vez que pelo leite pode ocorrer a transmissão vertical desse vírus. Face ao exposto, delimitou-se como objeto e objetivo desse estudo os significados da amamentação no discurso das políticas publicas de aleitamento materno frente ao risco de transmissão vertical do HIV. Esse estudo, com base na abordagem do método fenomenológico em Heidegger foi conduzido em dois momentos metódicos: o primeiro ôntico, buscando a compreensão vaga e mediana dos significados essenciais e o segundo ontológico, interpretando o sentido dos fenômenos. Logo, os significados expressos quanto a amamentação frente ao risco de transmissão vertical do HIV foram: a) O estabelecimento de princípios universais “em qualquer lugar” que assegurem proteção, promoção e apoio; b) Recomendações para novas condutas e comportamentos inerentes à implementação de rotinas e práticas assistenciais que favoreçam mudançase transformações visando a qualidade da assistência perinatal; c) Atenção integral às mulheres mediante participação ativa, empoderamento e autonomia no processo de parturição visando o resgate da prática da amamentação e a prevenção da TVHIV; d) Propósitos, diretrizes e elementos norteadores da assistência integral da mulher e da criança conjugando a amamentação, o controle da TVHIV e humanização; e) Riscos do aleitamento artificial e do desmame precoce bem como a identificação das condições que contra-indicam1 o aleitamento materno com destaque para mulheres soropositivas para o HIV; f) Cuidados à mulher e ao seu recém-nascido em relação ao parto e nascimento indicando práticas, condutas e ações favoráveis à amamentação precoce e à prevenção da TVHIV. Contudo os resultados apresentados nesse estudo, demonstram a necessidade de resgatar no cotidiano assistencial das maternidades a realização de capacitação para as equipes de saúde de forma crítica e reflexiva, para que haja uma prática de cuidado solícito e autêntico, focalizado nas singuidaridades do ser-mulher-gestante-parturiente-puérpera-nutriz. Enfim, percebe-se um distanciamento entre o que é apresentado pela políticas públicas de saúde e o que é vivido pelo ser-mulher-gestante-parturiente-puérpera-nutriz. 1