Tamanho da fonte:
O LÚDICO NA DESINSTITUCIONALIZAÇÃO DE INTERNOS DE LONGA PERMANÊNCIA EM UM HOSPITAL PSIQUIÁTRICO
Resumo
A Lei 10.216/01, que orienta a Reforma Psiquiátrica brasileira, estabelece novas formas de pensar e produzir o cuidado em saúde mental. Assim, a lógica manicomial vem sendo progressivamente substituída pela da Atenção Psicossocial, pautada no cuidado de base territorial, humanizado e articulado entre vários setores. Seguindo este novo modelo, em 30 de dezembro de 2010, o maior manicômio do estado de Pernambuco, o Hospital Psiquiátrico José Alberto Maia (HJAM), teve suas portas fechadas, encerrando um processo de denúncias contra o isolamento, maus tratos e violação dos direitos humanos. Para acolher as pessoas que saíam deste local, o Governo de Pernambuco, juntamente com o Município de Camaragibe, criou um espaço transitório denominado Centro de Desinstitucionalização. Localizado no km 14 de Aldeia, área pertencente ao município de Camaragibe, o Centro chegou a abrigar em torno de 250 pessoas e, desde sua concepção configura-se como uma estratégia de produção de cuidado humanizado, estimulação para as Atividades da Vida Diária e resgate da cultura, isso ocorrendo concomitantemente às articulações entre municípios e familiares para o retorno às casas ou inclusão nos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT). Mesmo apresentando objetivos claros, o inicio do processo foi cercado pela dificuldade de se encontrar uma metodologia adequada para as intervenções. Cria, então, o grupo Movimento Cultural. O resgate e a re-significação da cultura tornaram-se objetivos do grupo. Foi possível construir e fortalecer vínculos, resgatar a cultura, romper preconceitos e estigmas, de forma lúdica. A ludicidade surgiu como um instrumento facilitador do processo, uma vez que, de acordo com Mendes e Oliveira (2010), este se constitui como um elemento intrínseco do surgimento e desenvolvimento da civilização, e pode abrir espaço para a reorientação das práticas em saúde, flexibilizar as relações de poder entre profissionais e usuários e permitir que os sujeitos tornem-se protagonistas no cuidado com a saúde.