Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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OS DESAFIOS PARA O ENSINO DA SEMIOLOGIA MÉDICA NA ATENÇÃO BÁSICA
Kathleen Tereza da Cruz, Analúcia Abreu Maranhão

Resumo


Historicamente, o ensino da semiologia médica é realizado em hospitais, no qual o doente está disponível quase em tempo integral para as práticas semiotécnicas. O objetivo é o aprendizado do raciocínio clínico, das técnicas de entrevista e exame físico, que se desenvolve sem as responsabilidades assistenciais que implicam o agir no método clinico. O usuário é apresentado ao estudante como objeto de ensino, paciente a responder e ofertar seu corpo para a produção do saber médico. Produz-se na prática uma desconexão, neglicenciando-se o cuidado como foco da intervenção clinica. A iniciação da clinica dentro desta perspectiva mitiga os esforços curriculares para introduzir o cuidado do usuário como centro da atividades clinicas, funcionando como filtro semiótico que purifica o ato clinico das interferências produzidas pelas necessidades de saúde dos usuários no saber médico.Para enfrentar esta questão, o Curso de Medicina da UFRJ-Macaé, introduziu o ensino da semiologia também na atenção básica, mesclando em uma semana padrão atividades em ambiente hospitalar e na atenção básica. Nesta, o docente além de ensinar a semiotécnica, dá conseqüência clínica aos problemas dos usuários atendidos com alunos, produzindo ações de cuidado de forma integrada com a equipe de saúde da família. Visibiliza-se a mestiçagem que ocorre entre saberes científicos e populares quando se tem como foco o cuidado e a retomada de nova normalidade nos modos de viver dos usuários. Os resultados positivos são: aprendizado da semiologia articulado com a vivência das responsabilidades médicas relacionadas ao cuidado; vivência de docentes e estudantes da complexidade clínica e da variedade de modos de vida que se apresentam no cotidiano da atenção básica; valorização da atenção básica como espaço de ensino da prática clínica, envolvimento dos docentes com assistência na atenção básica. Dificuldades: pouca experiência de docente com a ensino da prática clinica na atenção básica; pressão demanda para ampliar o volume de atendimento do docente; espaço físico na atenção básica estrangulado, visão docente centrada no saber. Concluímos que o ensino da semiologia na atenção básica tem grande potencialmente de produzir um deslocamento do foco da prática médica do saber para o cuidado. Assim, propusemos uma reorganização desta disciplina, aprofundado a vivência pela atenção básica, que deverá anteceder e depois se concomitante com as práticas em ambiente hospitalar.