Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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O tempo da instituição e o tempo da desinstitucionalização
Natalia Cruz Camacho, Flávia Fasciotti, Conrado Tapajós

Resumo


As novas concepções acerca da loucura e suas possíveis formas de tratamento voltam-se para um sujeito em sofrimento psíquico, que necessita de meios, suporte e cuidados de tal modo que possa colocar-se como pertencente à dinâmica social. Assim, novos dispositivos de cuidado são pensados com o objetivo de substituir o modelo manicomial por outro sustentado em serviços diversificados e integrados aos laços sociais. Neste contexto, encontramos os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), dispositivos estratégicos na política de desinstitucionalização, ao pensarmos em pessoas egressas de longas internações com vínculos extramuros perdidos. Conforme definida pela Portaria 106, a finalidade deste dispositivo de cuidado está em garantir uma assistência integral em saúde mental e eficaz para a reabilitação psicossocial, procurando a reintegração social de seus usuários e a redução das internações em hospitais psiquiátricos. O primeiro ano da residência multiprofissional em saúde mental do IPUB focaliza o trabalho no processo de desinstitucionalização dos pacientes de longa permanência das enfermarias. Alguns destes projetos terapêuticos apontaram como o caminho de saída da instituição o SRT do IPUB, dentre eles o de V., internada há onze anos. A construção da ida para uma casa tem sido atravessada tanto por impasses institucionais quanto pelas dificuldades subjetivas de V.. O ponto central deste acompanhamento consiste em sustentar o diálogo entre estes dois elementos: para que seja possível a vida na casa é necessário que a instituição esteja atenta ao tempo, ambivalências, dificuldades e possibilidades de V., para dessa forma lançar mão dos recursos que sustentem sua efetiva mudança para uma casa na comunidade. O primeiro movimento neste sentido foi procurar chamar os atores do hospital a apostarem na possibilidade de trabalho, pois a desinstitucionalização requer o investimento de todos aqueles envolvidos no cuidado. A proposta da equipe de desistir apareceu em alguns momentos, por já haver transcorrido um tempo que a instituição julga ser longo para que V. não fosse moradora da SRT. Não há garantias no nosso trabalho, é preciso fazer apostas e atentar para seus efeitos, que muitas vezes aparecem de forma sutil e delicada. Na história de V. percebemos que enquanto houve investimento no trabalho, começaram a ser feitos laços nas relações com os outros moradores e um pequeno reconhecimento do espaço do SRT como seu.