Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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OS (DES)COMPASSOS ENTRE A UNIVERSIDADE E OS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE
Virginia Junqueira, Maria Fernanda Petroli Frutuoso, Carlos Roberto Castro Silva, Angela Aparecida Capozzolo

Resumo


Como parte dos resultados de pesquisa apoiada pelo Cnpq, discute-se a experiência de formação do Eixo Trabalho em Saúde (TS), da Universidade Federal de São Paulo, campus Baixada Santista, inserida no contexto dos movimentos de mudanças na formação dos profissionais de saúde - à luz da relação entre universidade e serviço de saúde e a partir de relatos de discentes, das primeiras turmas de estudantes do campus e profissionais dos equipamentos de saúde e de trabalhadores do SUS municipal. Em um momento onde a inserção dos alunos acontecia, predominantemente, em espaços de atenção básica em saúde do município de Santos. Foram analisados os conteúdos dos grupos focais formados por estudantes de cinco categorias profissionais (Educação Física, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia e Terapia Ocupacional) que discutiram e opinaram sobre as atividades de ensino-aprendizagem em serviço propostas pelo Eixo Trabalho em Saúde e de entrevistas com chefias e agentes comunitários de saúde -ACS dos serviços do SUS municipal. Emergiram elementos que ajudam a compor, a partir deste material empírico, como é experimentada pelos alunos e pelos trabalhadores do SUS a interação entre uma instituição de ensino e os serviços. É consenso que o trabalho coletivo, pactuado e integrado entre discentes, docentes, equipe e gestores de saúde permite a integração ensino-serviço-comunidade oferecendo qualidade à formação tanto dos estudantes quanto dos trabalhadores de serviço. A produção de cuidado produz também cuidadores. No entanto, há dificuldades de implementação na prática, que se iniciam na própria organização do serviço. A não-continuidade foi termo freqüente utilizado pelos estudantes nos grupos focais para se referirem à relação entre a universidade e os serviços de saúde, trazendo vários sentidos que nos possibilitam qualificar melhor tal relação. Indica pistas, ou melhor, nos fornece contrapontos sobre valores e expectativas que permeiam a relação entre as duas instituições (e seus projetos e representantes), inclusive porque é, muitas vezes, resultante de processo intenso de encontros entre os vários atores envolvidos, vários tipos de expectativas, de diferentes lugares: alunos, agentes comunitários de saúde e população em relação à qualidade do cuidado podem estar embutidos ao expressar a não continuidade das ações do eixo, dando a ideia de interrupção de um processo de vínculo entre estudante e munícipe, que repercutiria negativamente no acompanhamento deste último. Cabe interrogar se a noção de integralidade criaria expectativa que não se cumpre, em um horizonte ético-político idealizado, explicitado pela frequente insatisfação dos discentes diante do serviço. Os relatos da equipe de saúde variam de acordo com a unidade de serviço, indicando que não é uniforme a relação entre a Universidade e as diferentes equipes, o que pode ser explicado pela diferente trajetória/história de planejamento e execução de atividades de inserção dos alunos nos distintos locais, bem como a organização dos serviços (Saúde da Família e modelo tradicional). As falas dos ACS que, dentre todos os profissionais, são os atores mais envolvidos com o acompanhamento das atividades do eixo, revelam insuficiente compreensão da parceria ou de seu potencial, entre universidade e serviço, expressando exterioridade e distanciamento entre teoria e prática: O posicionamento das chefias, apesar dos saldos positivos, apontam também para a necessidade de aprofundamento da integração da universidade com a rede. A proposta do Eixo Trabalho em Saúde e a inclusão de atividades no SUS na formação dos alunos de graduação é inovadora e permeada pela construção de relações serviço/ensino; ressalta-se a questão de como trabalhar com as dificuldades sem desmotivar o estudante em relação ao seu futuro profissional na rede de saúde. Entender o contexto e a conjuntura é um exercício para sentir-se um profissional comprometido com o SUS, e um fator que pode ajudar a reverter esse quadro. A aposta no exercício de encontro entre pessoas (população, equipes de trabalho, estudantes e docentes) e a experimentação de situações do cotidiano do trabalho em saúde possibilita um aprendizado que não se restringe apenas à aquisição de um conhecimento racional e/ou planejamento de ações, mas envolve as dimensões política, afetiva e cultural.