Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Pró-Saúde e Pet-Saúde: transdisciplinaridade na integração Ensino Serviço
Arthur Parreiras Gomes

Resumo


Realizar um trabalho transdisciplinar, nos faz deparar com inúmeros desafios e possibilidades. Se sustentarmos nossos serviços na proposta apresentada pelo Pró-Saúde e pelo Pet-Saúde, não teremos outro caminho senão a transdisciplinaridade por sermos convocados a orientar nossas ações na construção de uma rede. Pensar a saúde pública como um sistema de níveis, objetivos e coordenações múltiplas e com finalidades comuns é ir além do que é composto por muitos, mas sem interação, ou quando interagindo não produzindo, efetivamente, um produto comum. A assistência à saúde, enquanto uma rede é construída por inúmeras linhas, pontos, nós e espaços vazios. As linhas propiciadoras dos pontos necessários para a tessitura da nossa prática podem ser duras ou flexíveis. As linhas duras são fundamentais enquanto resistência para que as linhas flexíveis possam agir. Falar, pois, de desafios, é reconhecer as nossas linhas duras, para frente a elas, deixarmos algo vazar, escapar e produzirmos saídas, enquanto possibilidades. Uma das linhas duras presente no nosso cotidiano é o impacto entre o público e o privado. Possibilitar o diálogo entre uma organização privada, no caso a PUC Minas, com uma organização pública, Secretaria Municipal da Saúde de Belo Horizonte, não é tarefa fácil por estes espaços, historicamente e epistemologicamente, seguirem orientações distintas. Talvez, este diálogo torna-se possível se reconhecermos que o público e o privado não estão apenas fora de nós, mas, antes de tudo dentro de nós mesmos. No contexto do público e do privado, também deparamos com o saber e o poder. Se não reconhecermos os limites dos nossos campos de conhecimento, tomando o que sabemos enquanto verdades, o máximo que conseguimos é realizar uma prática disciplinadora e segregadora que em nome da saúde incentiva, assegura e implanta mecanismos de controle. Um trabalho em equipe não se sustenta por desigualdades, tampouco, consegue acontecer aprisionado na igualdade. São as semelhanças que permitem a conexão de uma ideia à outra, nos possibilitando o sentimento de pertencermos a um grupo. Contudo, é a diferença que, pelo afastamento entre linhas, constrói os intervalos que fazem da rede prática e também discurso. Desta forma, no movimento do devir, uma significação transforma-se em outra e as linhas duras são essenciais ao trabalho das linhas flexíveis na produção de híbridos. Devemos ser híbridos, nos quais se misturam, em cada um de nós, sujeito, objeto, natureza, sociedade, ciência, política, público e privado. Na sociedade capitalista, os híbridos são desconsiderados em sua constituição mista e reduzidos a formas puras classificatórias e excludentes: ou sujeito ou objeto; ou natureza ou cultura; ou ciência ou política; ou público ou privado. Desta forma cada profissional se identifica por se excluir de outros campos de saber: ou fonoaudiologia ou fisioterapia ou odontologia ou enfermagem ou psicologia. Se entendermos que na língua portuguesa, ou pode significar exclusão, mas, também inclusão, ou, na condição de e, inclue num só espaço vários parceiros. Assim teremos: e sujeito e objeto; e natureza e cultura; e ciência e política; e público e privado; e fonoaudiologia e fisioterapia e odontologia e enfermagem e psicologia. Diante do confronto que angustia, no campo da ética profissional, temos duas possíveis posições: do traidor experimentador e a do trapaceiro. Na condição de produtor de intervalos propiciadores da emergência do diferente, seremos experimentadores que, enquanto traidores das verdades universais, não conformamos com os modelos que nos são apresentados e construímos ferramentas para enfrentar os desafios apresentados no cotidiano de nossa prática profissional e para produzir conhecimento. Assim, a cartografia apresenta-se como possibilidade de transdisciplinaridade no campo da saúde pública e da pesquisa. Já o trapaceiro, por não suportar a angustia resultante dos desafios, constrói armas para evitar a resistência e tentar destruir o confronto, mantendo a totalidade do instituído como verdade. É preciso trair para produzir diferenças e intensidades, e não trapacear, pois, este último não denota devir. Resta-nos, pois, fazer nossas escolhas: ser trapaceiro ou experimentador traidor? * Psicólogo; professor da PUC Minas / Unidade Coração Eucarístico nos cursos de psicologia, fonoaudiologia e fisioterapia; preceptor de estágio nos Centros de Saúde Jardim Filadélfia e Pompéia; Mestre e Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa.