Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Projeto PET-Vigilância em Saúde: do estranhamento ao debate político-social
Agnes Andreoli

Resumo


Agnes Andreoli dos Santos Caracterização do problema: o primeiro contato com o trabalho de vigilância em saúde começou com o estranhamento. Começou bem, pois qualquer contato inicial que nos faz refletir é aquele que de alguma forma nos estranha. Caso contrário, passamos despercebidos por algo que poderia mudar nossa formação profissional, pois o desejo de mudança nasce quando nos sentimos tocados por aquilo que nos faz refletir e pensar que algo pode ser diferente. Sendo o câncer de colo do útero uma das principais causas de óbito em mulheres brasileiras, atenta-se para a preocupação deste fato que tanto permeia as inquietações sobre o cuidado integral à saúde de uma população. Que saúde, para que(m)? Pensar no câncer de colo do útero e sua grave condição a que se apropria de um corpo é uma questão de preocupação geral em saúde pública. Pensar em saúde da mulher é compreender também sua condição social, seu lugar de cidadã e suas dificuldades frente às demandas da vida. Sendo assim, a vigilância em saúde torna-se importante na medida em que o processo de consciência avança. O sentido de um olhar voltado para a base do cuidado em saúde ultrapassa os papeis limitantes de categorias profissionais, que se restringe à especialização de cada profissional da saúde. Entretanto, cada parte do ser humano não deve ser vista separadamente, por cada profissional, mas deve ser entendida de forma integral. Esse processo de desconstrução nos possibilita ampliar nossa atuação, referente não somente àquilo que somos preparados, mas sim àquele aspecto que nos fundamenta: a saúde. Descrição da experiência: O projeto PET-Vigilância em Saúde possibilita o trabalho em equipe, entre colegas de diferentes áreas, e permite que os mesmos possam conversar e se propor ao entendimento do indivíduo em sua forma única de ser e estar. Saber do seu papel, conhecer e respeitar o lugar do colega é um exercício constante e de grande sabedoria. A equipe que se integrou para trabalhar no projeto é formada por colegas de diferentes áreas da saúde. Conhecer pessoas num trabalho em equipe que se propõe a estudar um tema em comum é uma tarefa de grande amadurecimento pessoal. Após seminários sobre saúde, o primeiro contato para entender o histórico clínico de mulheres com o devido diagnóstico foi com prontuários hospitalares. Ler estes prontuários pouco mostrou o acompanhamento clínico e a forma de tratamento que as pacientes recebiam, pela falta de clareza nas informações. Pois o diagnóstico, como foi visto, fora detectado quando o grau da doença já alcançara o seu estado mais avançado. Pensando assim, o que se imaginou era que o descuido também vinha do serviço de saúde de cada usuária, pois quando o diagnóstico é realizado precocemente, há seguramente chances de tratamento. Caso contrário, como foi visto, a prevenção peca ao descuidar nessa atenção, fazendo com que o câncer chegue ao seu estado mais avançado. Por isso para entender melhor ainda a história das pacientes, recorremos à base do atendimento dessas mulheres, ou seja, suas respectivas unidades de saúde. Para o espanto, desesperança e preocupação, a alternativa que poderia conhecer mais sobre o histórico clínico da usuária, pouco se proporcionou informações. Os serviços de saúde pouco mostraram a responsabilidade de acompanhar suas usuárias enquanto política de saúde da mulher. Algumas unidades de saúde, poucas falando de uma cidade inteira, mostraram o cuidado com a saúde da mulher. Poucas mostraram a reponsabilidade enquanto serviço de saúde e enquanto profissionais que se comprometem com o cuidado integral, com o acompanhamento e com o interesse pelo atendimento de qualidade. Este trabalho passa principalmente pela conscientização da humanização em saúde, pela apropriação do papel político e profissional, pela relação que se estabelece com cada usuário do serviço, acompanhando o mesmo pelos caminhos que percorre pela rede. Neste contato, ficou evidente que o SUS não cumpre o que deveria ser uma política de Estado, com aquilo que está explicitado na Constituição e nas Diretrizes do SUS. Ao conhecer o funcionamento de cada serviço, percebe-se que falta uma questão fundamental enquanto diretriz que poderia guiar as unidades. Uma política de gestão peca ao se deparar com a rede no que se refere à organização de estrutura de trabalho dentro de uma unidade de saúde. O que se encontra, todavia, são gestões diversas que atuam de formas particulares. Efeitos alcançados: a sensibilidade do olhar compreensivo para o contexto saúde pública facilita quando é possível se colocar no lugar do usuário, mais ainda quando se é. Do questionamento nasce o sentido de cidadania. Direitos e deveres devem ser claros quando sabemos nosso papel enquanto cidadão nesta sociedade, na luta por uma saúde pública de qualidade. A vivência do projeto na graduação proporciona o crescimento pessoal na formação profissional. Mas vou além, me possibilitou a formação política e social enquanto cidadã que se propõe ao debate saudável por uma vida digna e justa. Recomendações: antes do entendimento de patologias, formas de tratamento ou prevenção, devemos compreender o contexto em que acontecem determinadas enfermidades. Ampliar o olhar para uma lógica que está distante desta que hoje vivemos, aquela médica linear. Pensemos na qualidade de vida, que passa pela atenção básica, que deve ser, ao mínimo, nosso comum entre equipes multidisciplinares, e pela conscientização dos profissionais na humanização em saúde. A promoção da saúde é um estudo que cada vez mais desperta desejos de mudança.