Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
PROMOÇÃO AO ACESSO À EDUCAÇÃO EM SAÚDE AOS USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ATRAVÉS DO GRUPO DE SAÚDE
Anna Luiza dos Santos Lessa Maffei, Malena Storani, Tatiana Souza do Rego, Ândrea Cardoso Souza, Maria Del Carmen Guilherme Baradat, Francisco Leonel Fernandes

Resumo


MAFFEI, Anna Luiza dos Santos Lessa¹ REGO, Tatiana Souza do² SOUZA, Ândrea Cardoso³ FERNANDES, Francisco Leonel4 BARADAT, Carmem5 STORANI, Malena6 Caracterização do Problema: Na atual situação do SUS no Brasil, onde em sua maioria os usuários encontram-se alijados do processo de produção de saúde e, consequentemente, são desrespeitados em seu direito constitucional que garante saúde para todos, nos encontramos em nossa prática diária com uma população que parece ainda mais à margem: aqueles que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas. Tais usuários, que às vezes vivem pelas ruas, escondidos, à parte do laço social, dificilmente conseguem chegar às unidades de saúde e incluir em seu cotidiano a preocupação com seu estado geral e com a redução dos danos causados pelo uso de substâncias, já que tais cuidados implicam em um encontro interessante do usuário com um profissional de saúde. Muitas vezes a dificuldade em prestar atendimento ou informação ao usuário parte do próprio profissional que, por questões de formação ou por preconceitos, não consegue alcançar as dimensões sociais e subjetivas de sua prática, realizando-a de forma inadequada. A Política Nacional sobre Drogas, contudo, inclui entre seus pressupostos a garantia de que a pessoa usuária ou dependente de drogas seja tratada de forma igualitária, o que, inclusive, em nada destoa das diretrizes do SUS. No Hospital Psiquiátrico de Jurujuba, no município de Niterói, Rio de Janeiro, há uma enfermaria com 12 leitos mistos de curta duração e com equipe multidisciplinar para usuários de álcool e outras drogas que se encontram em situação de crise e risco. Uma vez internados, apostamos que estes usuários possam incluir em seu tratamento a possibilidade de reflexão sobre sua saúde, seus hábitos e direitos. Para tanto, uma das atividades realizadas neste espaço é o grupo de saúde, que funciona como uma ação de educação em saúde, onde a roda de conversa proporciona uma troca de saberes e experiências, sendo um elo importante para a retomada do cuidado com a saúde e proporcionando uma melhoria da qualidade de vida. Segundo Gonçalves (2004, p. 762) “Compreende-se que os objetivos da Educação em Saúde são de desenvolver nas pessoas o senso de responsabilidade pela sua própria saúde e pela saúde da comunidade a qual pertençam e a capacidade de participar da vida comunitária de uma maneira construtiva”. O grupo de saúde é realizado pela enfermeira do setor conjuntamente com duas estagiárias bolsistas do Programa de Educação pelo Trabalho, PET Saúde Mental – crack, álcool e outras drogas, que constitui um instrumento para viabilizar programas de aperfeiçoamento e especialização em serviço dos profissionais da saúde, bem como de iniciação ao trabalho, estágios e vivências, dirigidos aos estudantes da área, de acordo com as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Como a maioria dos internos desta enfermaria apresenta baixa escolaridade e pouco sabe sobre o funcionamento do seu próprio corpo, o grupo possibilita que os pacientes aprendam a cada semana um novo tema de saúde sugerido pelos mesmos, garantindo sempre a abordagem de assuntos que sejam de seu interesse. Descrição da Experiência: Se trata de uma abordagem qualitativa. O grupo de saúde atua como um momento de conversa informal, onde todos têm a liberdade de fazer perguntas e expor as suas vivências. O grupo é feito uma vez na semana, tendo um dia específico para a sua realização. O tema é eleito ao final da atividade, com o consenso de todos os participantes, e é abordado na semana seguinte. Tendo um assunto defino, é feita uma pesquisa para o levantamento de material, que se constitui basicamente em figuras, para facilitar a compreensão e a visualização da problemática, além de um quadro negro onde também é feito alguns desenhos e panfletos distribuídos nos serviços de atenção básica. A participação dos internos na atividade é facultativa, estando a critério deles o interesse de participar. O grupo é realizado pela enfermeira do setor juntamente com os estagiários do PET Saúde Mental. Ao término de cada grupo de saúde, a dinâmica da atividade é devidamente registrada. É importante ressaltar que o desenvolvimento do grupo depende muito da interação dos participantes com a temática abordada, pois uma vez que os mesmos não levantem questões o grupo torna-se limitado, por isso mostra-se a importância de deixar os pacientes a vontade e estimular sua participação por meio da realização perguntas casuais sobre o tema. Efeitos Alcançados: A promoção da educação em saúde no SAD garantiu uma maior conscientização e preocupação em relação às práticas exercidas por estes usuários de drogas, fazendo com que eles conseguissem apontar seus erros, dificuldades e desconhecimentos anteriores e, desta forma, pudessem fazer diferente. Após o grupo, alguns pacientes procuraram se informar sobre seu real estado de saúde através da busca por solicitações de exames médicos. A discussão sobre os temas de maior interesse dos pacientes faz com que o grupo tenha uma ótima aceitação, estando cheio na maioria das vezes. O momento de reflexão proporcionado pela internação aliado ao grupo de saúde faz com que os internos foquem em si mesmos, voltando a se preocupar com sua saúde. Os agravos à saúde podem ser ditos como os danos à integridade física, mental e social dos indivíduos, provocado por doenças ou circunstâncias nocivas, como acidentes, intoxicações e o abuso de drogas. Através do conhecimento desses agravos, transmitido pelo grupo de saúde, cria-se a capacidade de se tomar a escolha mais adequada no que se refere a medidas preventivas. A diversidade de temas oferecidos pelo grupo de saúde acaba por estimular a curiosidade dos pacientes na escolha por novos temas. Geralmente um tema conduz ao outro, seguindo a mesma linha de pensamento da atividade anterior, ou então, sugere-se uma situação do cotidiano da internação ou uma experiência pessoal que os interessa de tal forma que faz com que haja uma maior busca por seu entendimento. Recomendações: A educação em saúde é essencial para a reflexão e mudança de comportamento na vida dos indivíduos. O grupo de saúde tem como finalidade a melhoria da qualidade de vida através da conscientização provida pelo acesso a informação por meio das técnicas de educação em saúde. Os ensinamentos proporcionados pelo grupo são importantes para a vida diária, e o que se espera é que os pacientes consigam levar estes conhecimentos para além dos muros da internação. Levando em conta a política de Redução de Danos, não temos a pretensão de fazer com que essas pessoas deixem de ser dependentes químicos, mas que, depois dos conhecimentos adquiridos pelo grupo, consigam fazer suas escolhas de maneira consciente e, quem sabe, optar por uma vida longe da dependência, prezando pelo seu bem estar físico e mental. A construção do conhecimento, em relação à promoção da saúde, é um processo que precisa ser realizado de forma constante, tendo a participação individual e coletiva, na esfera familiar, no grupo de trabalho, nos grupos sociais, nas comunidades ou até mesmo nas organizações sociais (CEGANO; SIQUEIRA; CÉZAR VAZ, 2005). Descritores: Grupo de Saúde; Educação em Saúde; Álcool e Outras Drogas. Eixo Temático: Educação, Saúde e Trabalho; Saúde Mental REFERÊNCIAS: BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. CEGAGNO D, SIQUEIRA HCH, CEZAR VAZ MR. Falando sobre pesquisa, educação em saúde na enfermagem. Rev. Gaúcha de Enf. Porto Alegre (RS) 2005 ago; 26(2): 154-60 Legislação e Políticas Públicas sobre Drogas / Brasília, Presidência da República, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2008. Oliveira HM, Gonçalves MJF. EDUCAÇÃO EM SAÚDE: uma experiência transformadora. Rev Bras Enferm, Brasília (DF) 2005 nov/dez;57(6): 761-3. Disponível em: URL: http: //www.scielo.br/pdf/reben/v57n6/a28.pdf [1] Acadêmica do 8° período do Curso de Graduação em Enfermagem e Licenciatura da Universidade Federal Fluminense e estagiária do PET Saúde Mental. E-mail: luizamaffei@gmail.com ² Psicóloga, especialista em Clínica Psicanalítica pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB), especialista em Psicanálise e Laço Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), chefe do setor de álcool e drogas (SAD) do Hospital Psiquiátrico de Jurujuba(HPJ). ³ Professora da Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense. 4 Doutor em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,Professor Adjunto IV da Universidade Federal Fluminense. 5 Acadêmica do 6° período do Curso de Psicologia da Universidade Federal Fluminense e estagiária do PET Saúde Mental. 6 Enfermeira do setor de álcool e outras drogas do Hospital Psiquiátrico de Jurujuba, graduada e licenciada pela Universidade Federal Fluminense.