Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Relato de Experiência: Inovando Mecanismos de Avaliação Discente utilizando Vídeos na Graduação em Odontologia
Monique da Costa Sandin Bartole, Walmir Júnio de Pinho Reis Rodrigues, Daniela Chaves Coelho Pires, Cristiane Gomes

Resumo


O modelo hegemônico de formação da área saúde possui uma abordagem biologicista, medicalizante, procedimento-centrada, a qual não atende às demandas e preceitos do sistema de saúde brasileiro e torna os profissionais distantes e incapazes de atuarem efetivamente no cuidado dos indivíduos (GIL, 2008; CECCIM; FEUERWERKER, 2004). A Odontologia, por sua vez, estabeleceu ao longo de sua essência, uma prática profissional centrada em ações prioritariamente curativas e individuais. A evolução na formação de novos profissionais, portanto, fez necessária para contemplar os aspectos relacionados à promoção e prevenção em saúde (PINHEIRO et al., 2009). Para esse fim, foi necessário que o perfil dos cirurgiões-dentistas em formação fosse desenvolvido de forma generalista, humanista, crítica, reflexiva, problematizadora e multiprofissional (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2006; CNE, 2002; MORITA; KRIGER). Com o intuito de acompanhar essas mudanças na lógica do ensino superior em saúde, o Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO) ao aderir ao Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (PRÓ-SAÚDE), iniciou a mudança curricular no curso de Odontologia no primeiro semestre de 2007. Essa mudança englobou a elaboração de um modelo integrado de atividades curriculares, bem como a utilização de metodologias ativas de aprendizagem, inserindo os estudantes na prática a partir do primeiro período (ALBUQUERQUE, 2007). No curso de graduação em Odontologia, as mudanças curriculares proporcionaram a inserção dos estudantes no mundo do trabalho através dos cenários de prática na consolidação dos módulos da Integração Ensino Trabalho Cidadania (IETC). Nesse cenário de ensino e aprendizagem os estudantes são distribuídos em pequenos grupos, os quais são encaminhados aos cenários de prática curriculares correspondentes ao exercício do período, onde se integram às atividades do serviço e à cidadania (PPPI, 2006). A IETC segue as premissas do Pró-Saúde e desenvolve competências e habilidades essenciais à formação profissional, permitindo ao estudante um ensino socialmente contextualizado e uma reflexão sobre seu papel social enquanto profissional (PINHEIRO et al., 2009). Esse trabalho é um relato da experiência de um dos processos de avaliação adotados pelo curso de graduação de Odontologia do UNIFESO, no módulo da IETC. A elaboração de vídeos amadores, de caráter estritamente didático, é realizada pelos próprios estudantes sob a orientação dos professores do curso. O material é colhido ao longo do período por meio de relatórios diários das práticas realizadas em campo complementado por seminários, instrumentos preponderantes para consolidação do conteúdo teórico. Os vídeos e fotos são autorizados pelos participantes e instituições envolvidas nas atividades e submetidos ao comitê de ética em pesquisa. Para que a reflexão da prática seja consistente, é exigido embasamento científico das atividades apresentadas nos vídeos, através de referências bibliográficas. No que concerne a avaliação, estabeleceu-se como critérios a evidência de atuação prática, a relevância e contribuição social contextualizadas às linhas de cuidado desenvolvidas no período; ainda, depoimentos, críticas e sugestões feitas pelo grupo complementam a visão crítica que se deseja desenvolver com os acadêmicos. Para a apresentação dos trabalhos, é agendada uma mostra de vídeos onde todo o material produzido pelos estudantes dos diversos períodos é exibido, buscando-se transversalizar e enriquecer a formação acadêmica por meio da troca das experiências vivenciadas. É possível observar que os estudantes, através de sua própria ótica, apresentam um recorte da realidade vivenciada nas diversas etapas do processo de aprendizagem. A utilização dos vídeos corrobora, através dos diversos recursos como imagens, músicas e depoimentos, a maneira como os estudantes se percebem enquanto profissionais/atores na transformação da realidade. Esse mecanismo avaliativo, no entanto, trouxe alguns desafios que precisam ser transpostos, como a baixa adesão de estudantes mais tímidos e as dificuldades na manipulação dos recursos tecnológicos. Outro aspecto a ser superado é a “pressa” na elaboração do vídeo que empobrece e compromete o debate que se deseja fomentar. Podemos concluir que, apesar dos desafios impostos (quase inerentes ao ato avaliativo), a elaboração de vídeos pelos acadêmicos os leva a refletir sobre suas práticas, desenvolvendo além das competências e habilidades técnicas e profissionais, inerentes ao cirurgião dentista, outras tantas que os humanizam refletindo em seu agir. Nesse sentido, podemos afirmar que esse novo instrumento de avaliação é mais dinâmico e inclusivo, ao passo que, de um lado, permite acompanhar a evolução – individual e da coletividade – do corpo discente, por outro lado, aos docentes permite uma reflexão da práxis do ensinar e aprender. Referências ALBUQUERQUE, V. S. A. et al. Integração curricular na formação superior em saúde: refletindo sobre o processo de mudança nos cursos do Unifeso. Rev. Bras. Educ. Med., v. 31, n. 3, p. 296-303, set./dez. 2007. CECCIM, R. B.; FEUERWERKER, L. C. M. Mudança na graduação das profissões de saúde sob o eixo da integralidade. Cad. Saúde Pública, v. 20, n. 5, p. 1400-1410, out. 2004. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES 3, de 19 de Fevereiro de 2002. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Odontologia. GIL, C. R. R. et al. Interação ensino, serviços e comunidade: desafios e perspectivas de uma experiência de ensino-aprendizagem na atenção básica. Rev. bras. educ. méd., v. 32, n. 2, p. 230-239, abr./jun. 2008. MORITA, M. C.; KRIGER, L. Mudanças nos cursos de odontologia e a interação com o SUS. Rev. ABENO, v. 4, n. 1, p. 17-21, 2004. NASCIMENTO, D. D. G.; OLIVEIRA, M. A. C. A política de formação de profissionais da saúde para o SUS: considerações sobre a residência multiprofissional em saúde da família. Rev. Min. Enf., v. 10, n. 4, p. 435-439, out./dez. 2006. PINHEIRO, F. M. C. A formação do cirurgião-dentista no Brasil: contribuições de estudos para a prática da profissão. RGO, v. 57, n. 1, p. 99-106, jan./mar. 2009. Projeto Político-Pedagógico Institucional – PPPI, 2006. Disponível em http: //www.feso.br/unifeso/pdf/ppi.pdf. Acessado em 05 de março de 2012.