Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Promoção da Saúde na Internet: A Experiência do Canal Elos da Saúde
Viviane Manso Castello Branco, Isabel Levy

Resumo


O advento e a popularização das tecnologias da informação e da comunicação têm modificado profundamente as formas como pessoas e instituições se relacionam, dinâmica em que as redes sociais da Internet assumem papel preponderante. O novo cenário comunicacional, mais participativo e interativo, gera impactos para todos os setores da sociedade e suas formas de organização, ao contribuir para a democratização dos processos de produção e circulação de sentidos e, consequentemente, para uma maior concorrência discursiva. Esta dinâmica alinha-se ao conceito de promoção da saúde definido pela Carta de Ottawa, durante a 1a Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em 1986, sob duas perspectivas: ao contribuir para a participação de sujeitos e comunidades nos processos que podem influenciar suas condições de vida e saúde e ao fomentar a intersetorialidade e o desenvolvimento de ações coordenadas entre governo, setor saúde, outros setores sociais e econômicos, organizações voluntárias e não-governamentais, autoridades locais, indústria e mídia. A inserção de todos estes participantes no processo de produção, circulação e apropriação de bens simbólicos relacionados à saúde e à cidadania fomenta o compartilhamento e a difusão de saberes na área. A importância da informação e da comunicação para a promoção da saúde é consenso entre estudiosos e ativistas desde a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que em 1986 esboçava a criação do SUS[1]. Os relatórios finais das Conferências Nacionais de Saúde realizadas desde então indicam a preocupação explícita dos participantes em democratizar a informação e comunicação em saúde. Segundo relatório final da 9ª Conferência Nacional de Saúde (1992), “o controle social não deve ser traduzido apenas em mecanismos formais e, sim, refletir-se no real poder da população em modificar planos, políticas, não só no campo da saúde”.[2] Ao incluir usuários, profissionais e gestores de serviços de saúde na produção de conteúdos sobre o tema, as redes sociais da Internet contribuem para trazer para a prática o controle público da comunicação e a participação social em saúde – direitos garantidos pela Constituição Federal Brasileira e fundamentados pelos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste processo, o modelo autoritário de saúde, que impõe comportamentos e medicamentos, é relativizado por ações que buscam a atenção integral, considerando a especificidade de cada indivíduo e de cada realidade. A abordagem ultrapassa a concepção hospitalocêntrica e mercadológica da saúde, definida como a ausência de doença, e sustenta o conceito ampliado de saúde, que pressupõe o bem-estar do sujeito e envolve aspectos como segurança, moradia, família, educação, trabalho e renda. A substituição de uma concepção reducionista arraigada há anos por uma perspectiva ampliada do mesmo objeto provoca consequências sobre toda a sociedade, ao estabelecer novas formas de produção, circulação e negociação de sentidos, bens e papéis políticos. Mudanças desse porte exigem o esforço integrado dos diferentes setores da sociedade, contexto que as redes sociais da Internet tem muito a contribuir. Iniciativas contemporâneas de promoção da saúde compartilham deste entendimento e buscam integrar, em suas ações, a cultura e o saber das populações envolvidas. O objetivo é ultrapassar o tradicional processo autoritário – que impõe práticas, comportamentos e medicamentos e ignoram especificidades – e propor abordagens participativas e integradoras, considerando realidades locais e pessoais. Neste sentido – e sobretudo no atual cenário de interatividade – envolver usuários dos serviços, profissionais e gestores de saúde no processo de informação e comunicação em saúde é estratégico. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) algumas iniciativas já experimentam as possibilidades da informação e comunicação em saúde na Internet. No município do Rio de Janeiro, este processo é motivado pela Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMSDC-RJ), por meio da criação e atualização de blogs de suas Superintendências de Promoção da Saúde e de Vigilância em Saúde, das Coordenações de Áreas Programáticas (CAPs) e das Clínicas da Família, reunidos no Observatório de Tecnologias em Informação e Comunicação em Sistemas e Serviços de Saúde (Otics). Este trabalho retrata a experiência do canal Elos da Saúde – disponível na Internet através do blog www.elosdasaude.wordpress.com e de perfis em redes sociais como o Facebook e o Twitter. Lançado em janeiro de 2011 pela Coordenação de Políticas e Ações Intersetoriais da Superintendência de Promoção da Saúde da SMSDC-RJ, a proposta busca superar o modelo ainda hegemônico de comunicação – linear, unidirecional e centralizado no emissor – e fomentar uma comunicação em rede, aberta, interativa e integradora, que valorize a polifonia social e discursiva. O objetivo é articular ações de promoção da saúde desenvolvidas por unidades, agentes comunitários e profissionais de saúde e por parceiros externos à SMSDC-RJ, como instituições de ensino e pesquisa, organizações não-governamentais, iniciativa privada e indivíduos comprometidos com a temática. [1] MINISTÉRIO DA SAÚDE. Relatório final da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Brasília, 1986. 29p. [2] MINISTÉRIO DA SAÚDE. Relatório final da 9ª Conferência Nacional de Saúde. Brasília, 1992. 43p.