Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Religiosidade e Sofrimento Psíquico: Espaços de Produção de Sentido
Renata Ferreira Cerqueira

Resumo


Introdução: O estudo que se apresenta é parte da dissertação de mestrado defendida na ENSP/FIOCRUZ e analisou a relação entre o transtorno mental e a religiosidade evangélica pentecostal, tal como se manifesta na prática de um serviço territorializado de saúde. Nesse percurso, a igreja pentecostal ao lidar com experiências concretas de vida, exerce uma forte influência na busca de sentido. O sujeito constroi uma identidade a partir da experiência de doença , traduzida pelo seu discurso e sistematizada pelas trajetórias terapêuticas construídas no território. O sofrimento psíquico passa a ser compreendido através do espaço relacional que o pentecostalismo oferece aos seus seguidores. É notório o crescente número de igrejas evangélicas que surge diariamente nas comunidades mais pobres e o discurso que chega até nós, profissionais da saúde mental, sobre o sentido que é produzido a partir da experiência de sofrimento. Esse fato demonstra que a instituição religiosa não pode ser considerada somente como sistema cultural, há uma lógica de vida e de enfrentamento que justifica essa comoção. O contexto da política pública de saúde mental que reorientou a assistência aos portadores de transtorno psiquiátrico, promoveu a descentralização da assistência através da construção de uma rede de serviços substitutivos, redimensionou o binômio saúde-doença, que passou a ser compreendido na tríade saúde-doença-cuidado. Objetivo: Compreender, articulando os conceitos de território, religiosidade e apoio social, como o sofrimento psíquico é interpretado pelas pessoas que cuidamos em um serviço de atenção diária. Metodologia: Estudo com abordagem qualitativa, nos moldes de etnografia focal. O cenário do estudo foi um serviço de atenção diária territorializado, cujo modelo teórico de assistência é a reabilitação psicossocial. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo e discutidos a partir da elaboração de categorias: corpo, família, conversão e cura. Resultados: Observou-se que o espaço religioso permite a construção de uma identidade que é aceita pela sociedade considerando o estigma que cerca essa clientela. Conclusões: No espaço religioso, o transtorno psíquico é ressignificado enquanto experiência vivida, resultando em apoio social. Tentamos demonstrar que os elementos que compõem o universo pentecostal atuam como importante porta-voz de experiências e expectativas das classes menos favorecidas.