Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Representações sociais da obesidade para mulheres em situação de pobreza
Helisa Canfield de Castro, Maria Eunice Maciel, Jacqueline Olieira Silva

Resumo


O fenômeno de excesso de peso, ainda que não privilégio exclusivo da contemporaneidade, hoje é encarado como um problema de saúde pública. Ainda que exista certo consenso em dizer que vivemos em uma sociedade lipofóbica e que os padrões de magreza imperem como ideais de corpo e beleza, esses elementos não são tão estáveis e homogêneos em todos os estratos de nossa complexa sociedade contemporânea. Isso significa dizer que esta “lipofobia” é extremamente relativa e que os padrões de beleza ditados pelos meios de comunicação são na verdade absorvidos e interpretados de maneira diferente por cada segmento de nossa complexa sociedade contemporânea. Nesse sentido é pertinente identificar como é representada e definida a obesidade em nosso cotidiano; O corpo é classificado na cotidianeidade da mesma forma que propõe os profissionais de saúde e os manuais que pelos quais se referenciam? Entender como os indivíduos e coletivos se veêm e determinam os fenômenos sociais que os envolvem contribui para a superação do paradigma centrado na díade saúde/doença. É proposta deste resumo abordar a obesidade, a partir de seu reconhecimento por indivíduos e coletivos. Para isso, foi realizada uma pesquisa qualitativa com mulheres em situação de pobreza no município de Porto Alegre. Como estratégia metodológica foi utilizada técnica de grupo focal na qual participaram 18 mulheres. Foi possível identificar que no imáginário representacional desse grupo prevalece a valorização do corpo obeso. Se o corpo magro associa-se à privação de alimentos, à fraqueza e à doença; opostamente o corpo obeso passa a estar vinculado às noções de suficiência alimentar, força e saúde. A obesidade das mulheres em situação de pobreza não está relacionada somente com a restrição de alimentos em quantidade e qualidade. A condição de obesa também encontra encoragem nas condições particulares de vida, nas concepções que elas têm de si mesmas, nas tarefas que realizam. Nesse sentido ser “gorda” seria “necessário” diante da situação de privação. Tais apontamentos evidenciam o distanciamneto existente entre o discurso praticado pelo profissional de saúde e estes sujeitos. Propõe-se a reflexão de que a efetividade de qualquer intervenção perpassa pelo diálogo entre os saberes profissionais e o saber popular e de que promover saúde e prevenir patologias necessita ser calcadas não somente no que pensam e querem os profissinais como também nas percepções da população usuária dos serviços de saúde.