Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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SAÚDE MENTAL E SAÚDE COLETIVA: DIÁLOGOS NECESSÁRIOS NA INTERSETORIALIDADE.
Sara Assis Silva, Patrícia Pinto Paula, Barbara Dias Oliveira

Resumo


O presente trabalho discutirá uma prática de estágio em Psicologia e Saúde Coletiva realizada no Ambulatório Affonso Silviano Brandão. Unidade de Saúde vinculada à Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), a qual se desenvolve atendimentos em clínicas especializadas, compondo a rede de Atenção Secundária do SUS-BH. Alguns usuários chegam ao Ambulatório por demanda espontânea, mas a grande maioria vem através do encaminhamento da Unidade Básica de Saúde (UBS) onde o usuário já possui um vínculo. As UBS formam a rede da Atenção Primária do SUS-BH e, contam em suas equipes com os profissionais generalistas das Equipes de Saúde da Família. Estes profissionais realizam o acolhimento a todo usuário que procure pela UBS e no caso de usuários com necessidades mais específicas, a equipe de referência encaminha para a respectiva especialidade na Atenção Secundária da rede SUS-BH, podendo neste momento ser encaminhado para o Ambulatório da FCMMG. O estágio aborda o processo de Acolhimento com fundamentação na Política Nacional de Humanização/ HumanizaSUS. O ministério da saúde considera que: O acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma postura ética: não pressupõe hora ou profissional específico para fazê-lo, implica compartilhamento de saberes, angústias e intervenções, tomando para si a responsabilidade de ‘abrigar e agasalhar’ outrem em suas demandas com responsabilidade e resolutividade pelo caso em questão. (Brasil, 2009, p. 23). Frente a esta dimensão complexa e dinâmica a troca entre diferentes perspectivas de saberes e práticas de produção em saúde se faz necessária. Desta feita torna-se premente, além das diretrizes estratégicas de gestão e de funcionalidade da rede de assistência voltada para uma atenção humanizada, a construção de uma nova abordagem para integração de saberes e fazeres em saúde. O Acolhimento, deste modo, demanda: “Uma construção coletiva de propostas com a equipe local e com a rede de serviços e gerências centrais e distritais.” (Brasil, 2009, p. 24). Construção que passa necessariamente pela interdisciplinaridade e dependendo da demanda exige-se arranjos e ações em direção à intersetorialidade. Ação em saúde que se sustenta na criação de vínculos e de diálogos entre diferentes setores de serviços públicos à população, por exemplo, diálogos entre saúde mental, saúde coletiva com a Previdência Social/INSS. A construção de interdisciplinaridade e intersetorialidade é complexa e ao mesmo tempo delicada, com exigências de manejos daqueles que desejam produzir saúde frente as conjunturas sócio-históricas atuais. O caso construído no Acolhimento realizado pelas alunas estagiárias, Sara Assis e Bárbara Dias, é representativo desta inventividade que se tece ao buscar promover saúde e cidadania, A pessoa acolhida pelas alunas será denominada de Edna. O primeiro acolhimento aconteceu no Ambulatório junto a especialidade médica de psiquiatria, no dia 07/Abril/2011. Edna respondeu como todos os pacientes a uma entrevista semi-estruturada, elaborada, em supervisão do estágio, pelos alunos. Edna tem 44 anos, é casada, e mãe de quatro filhos. Desde o primeiro momento percebemos que ela apresentava confusão mental e dificuldade para conversar. Edna iniciou o seu tratamento com o psiquiatra do ambulatório em 2002, segundo o prontuário e relatos do próprio médico o seu diagnóstico é de oligofrenia, esquizofrenia e distúrbio de depressão. Com base nos dados coletados e nas discussões com a professora supervisora, as alunas responsáveis pelo acolhimento da Edna, procuraram pelo Serviço Social do Ambulatório a fim de esclarecer e obter mais informações sobre a família e suas condições de vida. Devido às precárias condições financeiras da Edna e família, somado aos limites de saúde, buscamos orientação com advogados da área de direitos humanos para levantamento dos direitos da usuária, para acionar a Previdência Social. Edna não apresenta condições para trabalhar inserida no mercado produtivista, pois além dos problemas de saúde mental tem pouca visão, necessitando de transplante de córnea. O primeiro encontro na Previdência Social/INSS ocorreu no dia 25/Maio/2011 para abertura do processo de Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social – BPC-LOAS ao idoso e à pessoa com deficiência, mas por falta de documentação retornamos no dia 07/Junho. Já no dia 17/Junho Edna e seu esposo foram entrevistados pela Assistente Social do INSS. No atual momento aguardamos a perícia médica agendada para o dia 27/Junho/2011, somente após análise pericial teremos condições de futuras interlocuções. Caso o pedido seja indeferido buscar-se-á a novas alternativas. Todos esses procedimentos foram realizados visando construir com Edna e sua família uma promoção de saúde e o acesso a benefícios, para que assim ela possa ampliar suas condições de cidadania. Destaca-se o quanto o Acolhimento realizado com Edna representa a necessária construção de diálogos entre os diferentes saberes e práticas, Serviço Social, Psiquiatria, Direito, Agentes da Previdência Social. Como já nos sinalizava Campos (2000) são necessários os diálogos entre núcleos de conhecimentos dentro de um mesmo campo de saber, como também entre distintos campos de saberes, como uma via para se concretizar a saúde coletiva. A necessidade de formação para a prática interdisciplinar torna-se recomendável nas configurações normativas de saúde coletiva e das políticas e estratégias do Movimento Antimanicomial, onde se trabalha para promoção da cidadania dos usuários. Contexto sócio-histórico que passa a demandar, com premência, também o diálogo para além das fronteiras físicas das respectivas Unidades de Saúde. Ainda com base em Campos (2000) concordamos sobre a necessidade da formação para construção de interações com outras unidades de serviços distintos que formam a cidade. Interconectar diferentes pontos da rede de dispositivos de serviços públicos para se viabilizar a cidadania plena: um desafio significativo para a saúde mental junto à saúde coletiva. Palavras-chave: Acolhimento; Interdisciplinaridade; Intersetorialidade. REFERÊNCIAS: BRASIL. Ministério da Saúde. 2004. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização. A humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. CAMPOS, Gastão Wagner Souza. 2000. Saúde Pública e Saúde Coletiva: campo e núcleo de saberes e práticas. Ciência & Saúde Coletiva, 5(2): 219-230.