Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Transtorno do Estresse Pós-Traumático na infância: Relato de caso.
Christian Spina, Carolina Gioia, Camila Pucci, Juliana Sanchez, Cassiano Assunção, Elaine Assis

Resumo


O Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) é caracterizado pelo DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais) como um transtorno de ansiedade, evidenciado após contato com eventos traumáticos e reação de intenso medo, pavor ou comportamento de esquiva. O TEPT é o quadro psicopatológico mais frequente na população infanto-juvenil associado à exposição a eventos traumáticos. É caracterizado pela presença de três categorias de sintomas: experiência intrusiva, evitação e entorpecimento e excitabilidade fisiológica aumentada. Os sintomas devem estar presentes por um período superior a um mês e inferior a 6 meses, após o evento traumático, e ainda estar interferindo em diferentes áreas do desenvolvimento infantil e provocando prejuízos no funcionamento cognitivo, emocional, social e acadêmico das crianças, originando o quadro clínico característico. A literatura aponta particularidades no TEPT infantil: crianças em idade escolar podem apresentar problemas de aprendizagem, dificuldade de concentração, irritabilidade, raiva, comportamento agressivo e pesadelos sem conteúdo específico. A avaliação clínica do TEPT infanto-juvenil é difícil, pois envolve variáveis da criança e dos instrumentos e procedimentos utilizados. Para a triagem inicial são sugeridas 3 modalidades: entrevista com a criança e com os pais; entrevista apenas com a criança; e auto-relato da criança. O objetivo deste trabalho foi avaliar um caso de Transtorno de Estresse Pós-Traumático infantil devido a possíveis consequências acarretadas em suas relações interpessoais e de desenvolvimento da aprendizagem. Com essa finalidade foram realizadas duas visitas domiciliárias à casa da família da menor G. S., 6 anos. De acordo com as informações do prontuário e da agente comunitária (ACS), constatou-se um evento traumático que foi explorado por meio de entrevista psiquiátrica e atividades lúdicas. Na primeira visita observou-se a criança introspectiva e distímica, sendo relatada pela mãe que a mesma encontrava-se extremamente irritada com seus familiares após o acidente envolvendo sua prima e presenciado pela criança. Foi realizada a anamnese psiquiátrica com a menina e a mãe, que relatou que sua filha apresentava sono agitado, com sonilóquio e esquiva diante da menção do ocorrido. Na avaliação familiar constatamos três tios e um tio-avô com doença psiquiátrica. Fatores genéticos podem predispor ao desenvolvimento de doenças mentais, podendo estar associado as alterações da criança. A queixa principal da mãe estava relacionada ao desenvolvimento de aprendizagem, dificuldade de concentração da filha na lição de casa e escrita invertida das palavras, após o acidente, não havendo evidências anteriores ao ocorrido. Na tentativa de verificar a queixa referida solicitou-se que a criança representasse, em forma de escrita, alguns desenhos sugeridos pelo grupo. A criança sabia o significado dos desenhos, porém utilizou-se de letras aleatórias ao lado da figura, demonstrando não estar alfabetizada. Na segunda visita, após dois meses, a criança estava visivelmente mais alegre e responsiva às perguntas; realizamos novamente os desenhos para uma nova avaliação e não houve mudanças quanto à escrita; realizamos também um ditado, onde foi possível perceber que a menina ainda não está familiarizada com as sílabas. As seguintes conclusões foram obtidas: O TEPT é uma condição comum e particular nas crianças, levando a alterações emocionais e cognitivas, parecendo ser auto-limitada; acreditamos que o trauma sofrido pela criança não está totalmente relacionado com o seu desenvolvimento cognitivo; devido ao histórico apresentado, é importante que a paciente tenha um acompanhamento da equipe de saúde, levando em conta a possível chance de desenvolver uma psicopatia; como atividade de intervenção foi solicitado acompanhamento da mãe junto ao Núcleo de atenção a saúde da Família (NASF), a fim de possibilitar melhora no ambiente familiar.