Rede Unida, 10º Congresso Internacional da Rede Unida


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Unidades de Saúde Parceiras do Pai: uma estratégia para favorecer a inclusão dos homens nos serviços de saúde
Viviane Manso Castello Branco, Maria Luiza Mello Carvalho

Resumo


As mudanças ocorridas na sociedade se refletem na construção de um novo modelo de família, onde a cultura do autoritarismo vem sendo questionada e gradativamente substituída pela democracia familiar. Da mesma maneira como as mulheres conquistaram espaço na vida pública, os homens tentam se adaptar a essas mudanças, abrindo espaço no mundo familiar e dos afetos. Inúmeros trabalhos têm demonstrado a importância da paternidade afetiva e participativa no desenvolvimento físico, emocional e social dos filhos, na saúde da parceira e do próprio homem, trazendo benefícios para toda a sociedade. (Branco, VMC et al., 2009) Com foco na questão dos homens e das masculinidades, desenvolve-se o Comitê Vida (inicialmente denominado Macrofunção Vida), criado em 2001 para implementação de políticas públicas voltadas para saúde e direitos reprodutivos. Envolve diferentes secretarias e instituições municipais tais como Saúde, Educação, Esportes e Lazer, Assistência Social, Cultura, Coordenadoria de Promoção da Igualdade de Gênero, MultiRio, além de ONGs, universidades e pessoas interessadas. Suas propostas são construídas coletivamente em reuniões mensais abertas, seminários e oficinas. Este grupo vem desenvolvendo uma série de iniciativas, com especial ênfase na valorização da paternidade, de forma a ampliar o envolvimento dos homens nas ações de cuidado. As estratégias de mobilização adotadas foram inspiradas no Dia dos Pais. Foi instituída em agosto de 2002 a Semana de Valorização da Paternidade (Decreto Municipal 21.649) que passou a Mês de Valorização da Paternidade em 2004 (Decreto Municipal 24.083) em função do sucesso da iniciativa. No mês de agosto se elege um tema disparador para estimular a realização de atividades que ampliem o debate sobre a paternidade e fortaleçam vínculos entre pais e filhos. O Comitê instrumentaliza as redes com seminários, textos, programas de TV realizados pela MultiRio, relatos de experiências e sugestões de atividades, concedendo a cada unidade a liberdade de adequar-se ao contexto local. Uma característica interessante desta iniciativa é o intercâmbio de recursos (boletins, programas de TV, materiais educativos, profissionais, etc.) entre os diversos membros do grupo. Desde 2002, durante o mês de agosto, escolas, unidades de saúde, centros esportivos, equipamentos sociais e culturais passaram a desenvolver atividades voltadas para o tema da paternidade, abrangendo a realização de debates, oficinas, jogos de integração, atividades culturais e esportivas, pesquisas, publicações, seminários, painéis de fotos e depoimentos, programas e campanhas de TV, entre outras. (Rio de Janeiro, 2007) Para favorecer a institucionalização das atividades foram elaborados em 2006 os 10 Passos para Ampliar a Participação do Pai nas Políticas Públicas. Como desdobramento, a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil criou a iniciativa Unidade de Saúde Parceira do Pai, um conjunto de recomendações para qualificar os serviços de saúde, que podem ser espaços privilegiados para a formação de um novo modelo de pai, mais afetuoso e participativo. Pesquisa realizada com mais de 5 mil famílias de bebês de até 6 meses de idade, em unidades de saúde no Mês de Valorização da Paternidade/ 2005, durante a Campanha de Vacinação, revelou que 84% dos bebês conviviam diariamente com os pais. Ao contrário do que diz o senso comum, no início da vida, este pai geralmente está presente. Os serviços de saúde têm o desafio de contribuir para que este homem se sinta valorizado como pai e tenha oportunidades de receber informações, trocar experiências, desenvolver habilidades de cuidado e formar vínculos significativos com os filhos. Com o objetivo de apoiar as unidades de saúde foi publicada em 2009 a cartilha Unidade de Saúde Parceira do Pai (Branco, VMC et al., 2009), que apresenta as seguintes recomendações: 1. Promova junto à equipe a reflexão sobre temas relacionados às masculinidades, cuidado paterno e metodologias para trabalho com homens. 2. Inclua os homens e pais nas rotinas dos serviços e convide-os para as consultas, exames e atividades de grupo relacionadas ao cuidado com seus filhos e parceiras, tais como contracepção, TIG e acompanhamento pediátrico. 3. Incentive a participação dos pais no pré-natal, parto e pós-parto e dê a eles tarefas significativas, como cortar o cordão umbilical ou dar o primeiro banho. Divulgue o direito de eles acompanharem o parto. 4. Facilite a presença dos pais nas enfermarias, acompanhando seus filhos internados. 5. Promova com os homens atividades educativas que discutam temas relacionados ao cuidado, numa perspectiva de gênero. 6. Acolha os homens, valorizando sua capacidade, escutando suas demandas e sugestões, oferecendo apoio nas situações difíceis e incentivando-os a cuidar da própria saúde. 7. Proponha adaptações no ambiente de modo a favorecer a presença dos homens, tais como cadeiras, camas, banheiros masculinos, divisórias, cartazes e revistas. 8. Dê visibilidade ao tema do cuidado paterno, incluindo-o nas diferentes atividades educativas realizadas pela unidade, como: contracepção, pré-natal, aleitamento, grupos de adolescentes, pais e idosos. 9. Ofereça horários alternativos, tais como sábados e terceiro turno, para consultas, atividades de grupo e visitas às enfermarias, a fim de facilitar a presença dos pais que trabalham. 10. Estabeleça parcerias com a comunidade para fortalecer a rede de apoio social. Por ser um processo dinâmico estas recomendações são constantemente revisadas. Recentemente foi incluído o pré-natal masculino, uma consulta exclusiva para os homens, individual ou coletiva, realizada por enfermeiro ou médico. A cultura dos serviços de saúde ainda está muito relacionada ao circuito materno-infantil e a maioria dos profissionais tem dificuldade em compreender a relação entre paternidade e saúde. Apesar disso, o tema da paternidade vem sendo cada vez mais incorporado pelo nível gerencial da SMSDC, sobretudo na abordagem das DST/Aids, contracepção, aleitamento materno e violência doméstica. As unidades de saúde gradativamente também estão revendo suas rotinas e criando possibilidades para a inserção dos pais. Neste ano, 2012, se iniciou processo de certificação das unidades como Parceiras do Pai e 52 serviços se inscreveram para concorrer à certificação. Em 2008 foi feita uma avaliação do processo de trabalho da Macrofunção/Comitê Vida pela UIPES/Orla, que pode constatar avanços e identificar os fatores que vêm contribuindo para o sucesso e a sustentabilidade da proposta. A fecundidade da troca de saberes, experiências e recursos entre as instituições é um dos elementos responsáveis pelo sucesso da iniciativa. (Lima, V.L.G.P et al., 2011). Estas ações de valorização da paternidade têm se revelado uma importante estratégia de mobilização e integração de diferentes setores em torno da reflexão sobre o papel do homem e do pai na sociedade, contribuindo para aproximar os homens dos serviços, em especial os de saúde e educação. Referências: Rio de Janeiro. Aprendendo a ser pai. Boletim Circulador. SMSDC: Rio de Janeiro, 2007 Disponível em: http: //elosdasaude.files.wordpress.com/2011/05/circulador-pais.pdf Branco, V.M.C; Carvalho, M.L.M; Coutinho, A.P; Sicuro, A. Unidade de Saúde Parceira do Pai. Rio de Janeiro: SMSDC-Rio, 2009 Disponível em: http: //elosdasaude.wordpress.com/2011/01/18/unidade-de-saude-parceira-do-pai/ Lima, V.L.G.P; Campos, N.Z.R; Barroso, M.A.B; Arruda, J.M; Zandonadi, R.C.M.B; Branco, V.M.C . Política pública de valorização da paternidade: sistematização e análise de sua implantação no Rio de Janeiro. 2011 (no prelo)