Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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A EMANCIPAÇÃO DA OPRESSÃO DE GÊNERO NO CONTEXTO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
Kerle Dayana Tavares de Lucena, Jordana Beatriz Paulino, Ana Tereza Medeiros Cavalcanti da Silva, Waglânia de Mendonça Faustino e Freitas, Rodrigo Pinheiro de Toledo Vianna, Ulisses Umbelino dos Anjos

Resumo


Introdução: O entendimento da violência de gênero depende da compreensão do conceito de gênero, que corresponde à construção social dos papéis exercidos por mulheres e homens baseada nas diferenças entre os sexos, que se manifestam pelas identidades de gênero correspondentes ao feminino e ao masculino. O esclarecimento da categoria de gênero favorece a compreensão das desigualdades existentes entre homens e mulheres ao longo dos anos. Embora seja reconhecido que a saúde também é afetada por determinantes tanto biológicos quanto sociais, a idéia de gênero permanece como secundária no campo da saúde. Desse modo, os serviços de saúde precisam estar preparados para acolher a mulher em situação de violência, assistindo-a em sua integralidade. Na Atenção Primária não é diferente, tendo em vista seu importante papel no reconhecimento dos casos. Cerca de 21,4% das usuárias dos serviços de atenção primária com idade superior a 18 anos, relataram algum episódio de violência doméstica. Objetivo: compreender a realidade assistencial oferecida à mulher em situação de violência na Estratégia Saúde da Família no município de João Pessoa-PB em relação ao caráter emancipatório ou conservador que permeiam as práticas assistenciais no cotidiano dos profissionais. Método: Utilizou-se de entrevistas com profissionais de saúde e da análise do discurso para construção das subcategorias: a invisibilidade da violência doméstica no processo de trabalho na Estratégia Saúde da Família e os problemas socioeconômicos e a violência de gênero. Resultados: Evidenciou-se que o fenômeno da violência em si, não é considerado como um problema atinente ao campo da saúde, demonstrando a invisibilidade da violência no serviço, pois a violência é constantemente associada a fatores sócio-econômicos pelos profissionais. Conclusão: A capacidade de acolhimento da mulher por parte do profissional que não reconhece a violência como questão inerente ao seu processo de trabalho fica limitada e crença de que a violência doméstica é um problema restrito ao âmbito privado e que só diz respeito aos diretamente envolvidos reitera as deficiências dessa assistência e a complexidade do fenômeno. O conhecimento dos profissionais acerca das relações desiguais entre homens e mulheres se configura como um fundamental instrumento capaz de um agir integral em saúde, contribuindo com um processo de trabalho potente para estimular a emancipação da opressão de gênero.

Palavras-chave


Identidade de Gênero; Processo de trabalho; violência contra a mulher

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