Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


Tamanho da fonte: 
TRABALHO, GÊNERO E SAÚDE: MULHERES POLICIAIS MILITARES DO RIO DE JANEIRO REFLETEM SOBRE SEU ESTRESSE OCUPACIONAL
Claudia de Magalhaes Bezerra, Maria Cecília de Souza Minayo, Patrícia Constantino

Resumo


O estudo se insere na linha de pesquisa do CLAVES - Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde da ENSP/FIOCRUZ que visa compreender de forma estratégica as condições de trabalho, saúde física e mental e a qualidade de vida dos policiais civis e militares. Esse trabalho teve como objeto, o estresse ocupacional de mulheres policiais militares do Rio de Janeiro, enquanto um problema de saúde que traz consequências para a vida laboral e familiar. Buscou-se as percepções dessas profissionais sobre as diferenças de gênero no exercício do trabalho policial, a relação entre estresse ocupacional e problemas de saúde e as estratégias utilizadas para amenizar esse tipo de estresse. Profissionais de segurança correspondem a um dos segmentos mais vulneráveis aos acidentes e à morte no exercício de sua profissão e estão entre os que mais sofrem de estresse (SOUZA e MINAYO, 2005). O estudo do estresse ocupacional em mulheres policiais é um tema atual que oportuniza maior visibilidade a esse grupo social feminino. Na pesquisa de campo optou-se pelo método qualitativo, utilizando-se para a coleta de dados a técnica de grupos focais. Realizaram-se oito grupos nos quais participaram 42 mulheres, representantes de distintos cargos (praças e oficiais), setores de lotação (operacional e quadro de saúde) e localização geográfica da unidade onde trabalha (área muito violenta e área pouco violenta). Os resultados mostram que as policiais relacionam seu cotidiano de trabalho ao estresse, citam diversos sintomas (principalmente psicológicos) e declaram que seu relacionamento familiar também é afetado. Seu estresse tem origem basicamente na questão gerencial e organizacional, uma vez que maioria das mulheres está em funções internas. A hierarquia, a grande demanda de trabalho, a discriminação de gênero e o assédio sexual/moral na instituição, são percebidos como fatores estressantes. O sofrimento relacionado ao estresse ocupacional aparece mais fortemente entre as oficiais com cargos de chefia. As atividades operacionais são percebidas como mais estressantes, pois oferecem maiores riscos, gerando medo e tensão. O exercício físico foi o mais citado como eficaz estratégia para prevenir as consequências do estresse. Existe a necessidade de mudanças organizacionais e gerenciais sob a perspectiva de gênero e de investimento em ações preventivas que possam diminuir as consequências do estresse dentro da força policial do Rio de Janeiro.

Palavras-chave


Mulheres Policiais; Estresse Ocupacional; Gênero e Trabalho.

Referências


Anchieta VCC; Galinkin AL; Mendes AMB, Neiva ER. Trabalho e riscos de adoecimento: um estudo entre policiais civis. Psicologia: Teoria e Pesquisa 2001; 27 (2): 73-82.

Arial M; Gonik V; Wild P; Danuser B. Association of work related chronic stressors and psychiatric symptoms in a Swiss sample of police officers; a cross sectional questionnaire study. Int Arch Occup Environ Health, Switzerland 2010; 83 (3): 323-331.

Brown J; Cooper C; Kirkcaldy B. Occupational stress among senior police officers. Br J Psychol 1996; 87 (1): 31-41.

Conceição AC. Análise da morbimortalidade de mulheres policiais militares da cidade do Rio de Janeiro [dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): Instituto Fernandes Filgueira, Fundação Oswaldo Cruz; 2010.

Constantino P. Riscos vividos e percebidos pelos policiais civis de Campos dos Goytacazes [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz; 2006.

Costa M; Júnior HA; Oliveira J; Maia E. Estresse: diagnóstico dos policiais militares em uma cidade brasileira. Rev Panam Salud Publica 2002; 21(4): 217–222.

Gershon RRM; Lin S; Xianbin MHS. Work stress in aging police officers. Jornal of Occupational & Environment Medicin 2002; 44:160-167.

Juniper B; Branco N; Bellamy P. A new approach to evaluating the well-being of police. OccupMed 2010; 60 (7): 560-565.

Lipp MEN. Stress and quality of life of senior brazilian police officers. The Spanish Journal of Psychology, v. 12, 2009. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=17213008019>. Acesso em 20 nov. 2010.

 

Luz ES. Estudo do Estresse Ocupacional em Mulheres Policiais Militares da Cidade do Rio de Janeiro [dissertação]. Rio de Janeiro (RJ): Instituto Fernandes Filgueira, Fundação Oswaldo Cruz; 2011.

Minayo MCS; Souza ER; Constantino P. Missão prevenir e proteger: condições de vida, trabalho e saúde dos policiais militares do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2008.

Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec; 2010.

Minayo MCS, organizadora. Avaliação dos riscos ambientais e das condições de saúde dos policiais militares de Minas Gerais. Relatório de pesquisa. Belo Horizonte: 2011.

Minayo MCS; Souza ER; Constantino P. Riscos percebidos e vitimização de policiais civis e militares na (in)segurança pública. Cad Saúde Pública 2007; 23: 2767-2781.

Monteiro MC; Biscaia JR, Amorim CA, Valle B. O sedentarismo na Polícia Militar do Paraná. Fisioter Mov 1998; 11:9-30.

Muniz J. Ser policial é sobretudo uma razão de ser: cultura e cotidiano da policia militar do Rio de Janeiro [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Universidade Cândido Mendes:1999.

Oliveira, PLM; Badargi MP. Estresse e comprometimento com a carreira em policiais militares. Bol. Psicol. 2009; 59 (131).

Paschoal T; Tamayo A. Validação da escala de estresse no trabalho. Estudos de Psicologia 2004; 9 (1): 45-52.

Paschoal T; Tamayo A. Impacto dos valores laborais e da interferência família-trabalho no estresse ocupacional. Psicologia: Teoria e Pesquisa 2005; 21 (2): 173-180.

Rossi AM; Perrewe PL; Sauter SL. Stress e Qualidade de Vida no Trabalho. Perspectivas atuais da saúde ocupacional. Ed.Atlas: 2012.

Seyle H. Stress in health and disease. Boston: Butterworth; 1976.

Silva MB; Vieira SB. O processo de trabalho do militar estadual e a saúde mental. Saude soc. 2008; 17 (4).

Soares BM; Musumeci L. Mulheres Policiais: presença feminina na Polícia Militar do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 2005.

Souza ER, Minayo MCS. Policial, risco como profissão: morbimortalidade vinculada ao trabalho. Cien Saude Colet 2005; 10(4):917-928.

Souza ER; Franco LG; Meireles CC; Ferreira VT; Santos NC. Sofrimento psíquico entre policiais civis: uma análise sob a ótica de gênero. Cad. Saúde Pública 2007; 23 (1):105-114.

World Health Organization. Global strategy on occupacional health for all. 1995. Disponívelem <http://www.who.int/occupational_health/en/oehstrategy.pdf>. Acesso em 20 dez. 2010.