Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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MONITORAMENTO DA INCIDÊNCIA DA MALÁRIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA UTILIZANDO ALGORITMO AUTOMATIZADO
Rui Moreira Braz, Pedro Luiz Tauil

Resumo


Introdução: A Amazônia Brasileira concentra 99% dos casos de malária notificados no país. Porém, ainda não se conhece os níveis de variação da incidência da doença nos municípios. Objetivo: Desenvolver e aplicar algoritmo para detecção da variação da incidência da malária nos municípios da região. Métodos: Desenvolveu-se um sistema de monitoramento automatizado, baseado no diagrama de controle por quartis para classificação dos municípios em 4 grupos, conforme a variação da incidência da malária: grupo 1)  aqueles com incidência abaixo dos valores esperados; grupo 2) aqueles com incidência  dentro dos valores esperados; grupo 3) aqueles com epidemias; grupo 4) aqueles com apenas um caso durante o ano. A associação entre presença de áreas especiais (assentamentos, garimpos, áreas indígenas e de fronteira) e a ocorrência de epidemias, foi verificada com o teste do c2, p < 0,05. A dependência espacial das epidemias de malária nos municípios foi analisada por meio da variável “proporção de meses epidêmicos”, aplicando-se os índices de Moran global e local, com grau de significância de 95%. Resultados: Em 2010 foram observados 112 municípios (13,9% do total da região), no grupo 1; 331 municípios (41,0%) no grupo 2; 305 municípios (37,8%) no grupo 3 e; 59 municípios (7,3%) no grupo 4. Constatou-se associação entre a presença de áreas especiais e a ocorrência de epidemias de malária nos municípios (c2 = 39,34; p < 0,01). O índice de Moran Global foi 0,4892 em 2010 (p = 0,01), indicando a existência de dependência espacial (autocorrelação) das epidemias de malária nos municípios. O índice de Moran Local identificou autocorrelação espacial positiva direta, com significância estatística (p < 0,05), em 88 municípios (10,9% do total da região) em 2010. Conclusão: O algoritmo tipo Descrição Narrativa possibilitou a automação do diagrama por quartis resultando no sistema de monitoramento da incidência da malária. A maioria dos municípios apresentou incidência da malária dentro dos limites esperados e, entre estes, quase totalidade não registrou transmissão. O número de municípios com redução da incidência foi inferior ao número de municípios com epidemias. As epidemias foram produzidas isoladamente por P. vivax e por P. falciparum e, simultaneamente por ambas as espécies de plasmódio. Os casos esporádicos de malária devem ser investigados quanto aos vínculos epidemiológico, espacial e temporal. Quanto mais áreas especiais presentes no município maior foi a probabilidade da ocorrência de epidemias. A dependência espacial favoreceu a ocorrência de conglomerados de municípios epidêmicos.

Palavras-chave


malária, algoritmo, monitoramento, Amazônia Brasileira

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