Resumo
No trabalho desenvolvido pelas equipes de Saúde da Família, os profissionais de saúde se deparam cotidianamente com problemas de saúde de toda ordem, incluindo problemas de saúde mental, como transtornos mentais graves, uso abusivo de álcool e outras drogas e tantos outros considerados menos graves, como depressão leve e quadros de ansiedade generalizada, que podem comprometer a qualidade de vida de um grande número de pessoas.
No entanto, muitas vezes os profissionais não apresentam condições ou não estão qualificados para dar conta deste significativo problema de saúde. A formação tecnicista em saúde, pautada pelo modelo biomédico, cria dificuldades para a abordagem integral dos problemas de saúde e sua interface com a saúde mental. Apesar dos esforços em educação (continuada, permanente, cursos de aperfeiçoamento), as práticas assistenciais continuam fragmentadas e insuficientes para responder de forma integral aos problemas de saúde da atualidade.
Diante desses limites e dificuldades e da necessidade de mudanças nos modelos de organização dos sistemas e serviços de saúde, o presente trabalho, a partir do relato da experiência de acompanhamento conjunto (matriciador e equipe de Saúde da Família) de um caso na Estratégia de Saúde da Família, discute alguns aspectos importantes da organização das ações de apoio matricial em saúde mental que contribuíram para a qualificação do atendimento.
A rotina de encontros entre equipe e matriciador pode ser pensada e organizada como um espaço potente de construção da integralidade. Também oferece a possibilidade de elaboração de projetos de qualificação mais sólidos e permanentes, principalmente quando se leva em consideração alguns aspectos compartilhados da organização das ações de apoio matricial como: o projeto terapêutico, a pactuação do apoio e os atendimentos e ações conjuntas. A inserção das ações de saúde mental na atenção primária, através de ações de matriciamento, cria a possibilidade de repensar a qualificação do trabalho em saúde e os métodos pedagógicos necessários para produzir saberes e novos modos de organização do trabalho em rede e no território, tendo como cenário o cotidiano de trabalho das equipes.