Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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A GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA E AS PRÁTICAS DOS SANITARISTAS: ENCONTROS E DESENCONTROS
Liliana Santos

Resumo


Os Cursos de Graduação em Saúde Coletiva – objeto deste estudo – vêm sendo discutidos no âmbito da Associação Brasileira de Saúde Coletiva desde a década de 1990, quando era apontada a necessidade de antecipação da formação do sanitarista. Teixeira (2003) descreve o contexto de discussão que apontou para a necessidade de criação de uma formação graduada que incorporasse o conjunto de práticas e saberes do sanitarista, ressaltando importantes encontros nos quais essa temática foi abordada. No decorrer do texto, a autora destaca entre os principais motivos para a criação dos cursos de graduação em saúde coletiva a necessidade de encurtar o tempo da formação, evidenciando a importância dos conhecimentos da saúde coletiva e contribuindo para a reorientação dos modelos de atenção. Dessa forma, profissionais da saúde coletiva estariam inseridos no cotidiano de todos os serviços e não exclusivamente no âmbito da gestão mais central, como ocorre tradicionalmente. Seguindo essa abordagem, em publicação mais recente Bosi e Paim (2010) defendem que a graduação irá favorecer a qualificação dos futuros sanitaristas [...] possibilitando que esse processo, desde o seu início, se oriente por outra perspectiva paradigmática, calcada na interdisciplinaridade, modelo que se apresenta mais adequado aos desafios da saúde em nível coletivo (p. 2036). Também destacam que a existência de um curso de graduação em saúde coletiva impulsiona e qualifica a pós-graduação, pois proporciona novas condições e oportunidades para um aprofundamento de conhecimentos e aprimoramento de habilidades e atitudes [...] possibilitando que esses recuperem sua natureza que muitas vezes se empobrece com versões minimalistas (p. 2035). Da vivência da autora como docente substituta durante dois anos junto a um dos cursos de graduação na área da Saúde Coletiva, instituído a partir de 2009, em uma universidade pública brasileira surgiram, entre outras, curiosidades pertinentes ao processo orgânico do curso: como o currículo (significados, sentidos e atos) se comunica com o sistema local de saúde? O que é considerado conhecimento válido para a organização das ações educativas? São propostas vivências no sentido de aproximar os estudantes do cotidiano e das práticas da saúde Coletiva e das ações do SUS local? Como estudantes e docentes percebem e se inserem no cotidiano do curso e qual a relação estabelecida entre seus projetos de vida e a vivência deste Curso? A metodologia utilizada foi o estudo de caso, tendo como fontes de dados diários de campo, entrevistas, análise documental e grupos focais. Os resultados preliminares trazem uma compreensão acerca da temática, bem como uma contribuição, na perspectiva da pesquisa-ação, com debates e ações no sentido de problematizar a realidade, aguçando a apropriação crítica e transformação cotidiana desta experiência educativa em suas relações com a Saúde Coletiva de forma mais ampla e com as necessidades do SUS.

Palavras-chave


GRADUAÇÃO, SAÚDE COLETIVA, PRÁTICAS, MUNDO DO TRABALHO

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