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VER-SUS BRASIL - VIVÊNCIAS- ESTÁGIOS NO SUS: UM DISPOSITIVO DE QUALIFICAÇÃO DA FORMAÇÃO COM FOCO NAS REDES DE ATENÇÃO À SAUDE
Resumo
O tema da formação de profissionais e trabalhadores da área da saúde é uma questão fundamental para a sustentação de mudanças na política de saúde visto que ainda consiste em um dos nós críticos da saúde brasileira. Compreende-se que os trabalhadores e seus processos de trabalho bem como os serviços de saúde possuem grande potência na produção de conhecimento que podem impactar diretamente na definição dos modelos de atenção e gestão do sistema e, portanto, de fortalecimento de processos de mudança nos mesmos. As políticas de saúde, assim como a bibliografia na área, apontam que a qualidade da formação e da prática dos profissionais é um dos fatores determinantes para a definição das modelagens tecnoassistenciais que operam no cotidiano do SUS. Ao mesmo tempo em que a formulação e criação do SUS propõem uma nova lógica para os processos de cuidado e produção de vida, ainda encontramos a academia formulando e produzindo conhecimentos que sustentam paradigmas teóricos e práticos, tecnicistas e cartesianos, produtores de procedimentos e protocolos e não de processos de cuidado. A partir desse contexto, repensar o processo de formação e educação dos trabalhadores de saúde aponta alternativas ao articular ensino-pesquisa-serviço-gestão, através de tecnologias que promovam o trabalho e sua interação social enquanto instrumento de afirmação da vida, na perspectiva de que o sistema de saúde, e, portanto, seus trabalhadores, devem proporcionar espaços de encontro entre os atores e promover momentos de repensar seus processos de trabalho. Assim, apresenta-se como estratégia potencial para repensar o processo de formação de saúde, o Projeto VER-SUS (Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde), pensado com o intuito de aproximar o estudante da realidade do SUS, de ampliar seu olhar em relação à complexa organização do sistema de saúde, seus problemas, desafios e potencialidades. Os estágios e vivências constituem importantes dispositivos que permitem o estudante experimentar novos espaços de aprendizagem que são o cotidiano de trabalho da saúde, entendido enquanto um princípio educativo, e os processos de lutas e educação dos setores do campo, possibilitando a formação de profissionais comprometidos ético-politicamente com as demandas de saúde da população, com os princípios e diretrizes do sistema e que se entendam como atores sociais, agentes políticos, capazes de promover transformações. O projeto é composto por uma experiência de imersão na realidade do SUS onde os estudantes tem a oportunidade de vivenciar a realidade do SUS e assim se qualificarem para atuação no sistema de saúde. O foco das vivências são as redes de atenção à saúde, o entendimento do funcionamento dessas redes na perspectiva que esse futuro trabalhador do SUS poderá identificar o cenário de aprendizagem como o seu futuro cenário de prática profissional. O projeto é coordenado nacionalmente através da parceria entre o Ministério da Saúde, a Rede Governo Colaborativo em Saúde – UFRGS e a Associação Brasileira da Rede Unida, e, ainda, conta com a formação de comissões locais e estaduais, compostas por gestores, estudantes, instituições de ensino superior, profissionais de serviços de saúde, movimentos sociais, além de outras instituições parceiras regionalmente. Essas comissões prestam apoio descentralizado para a realização das vivências, ocupando o espaço de interlocução entre os diferentes atores e a comissão nacional. No ano, são realizadas duas edições das vivências, geralmente concomitante ao período de recesso nas instituições de ensino superior. Os projetos, construídos coletivamente pelas comissões locais, regionais e/ou estaduais, são encaminhados para apreciação da Coordenação Nacional contendo, basicamente, a justificativa para a realização da vivência, a logística operacional (onde são explicitadas as contrapartidas das instituições envolvidas), o roteiro de vivência, as metodologias de aprendizagem, a previsão orçamentária (para os itens não contemplados com as contrapartidas) e o cronograma de execução do projeto. Os aspectos que endossam a qualidade do projeto perpassam: o caráter multidisciplinar, pois oportuniza o envolvimento de estudantes de diferentes cursos com seu emaranhado de saberes singulares; a interinstituionalidade, visto as variadas instituições formadoras envolvidas; o conhecer a realidade complexa do SUS, esta, por sua vez, descortina as inúmeras lacunas que não são preenchidas por conhecimento e vivências reais durante a academia.