Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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ESTRATÉGIAS TECNOLÓGICAS DE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS E SUAS INTERFACES NA PRODUÇÃO DO CUIDADO EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO EM BELÉM—PA
José Guilherme Wady Santos

Resumo


Embalada pelos ideais de inovação, eficiência, qualidade e modernização da gestão pública, a Reforma Gerencial de 1995 resultou na precarização do trabalho. No SUS, esses aspectos têm comparecido pela via das tecnologias não materiais, locus onde a produção do cuidado se dá na relação intercessora entre trabalhador-usuário. Esta pesquisa, de doutorado, objetivou refletir sobre como operam os arranjos tecnológicos de gestão no cotidiano de profissionais que atuam no HUJBB, bem como sobre os modos de enfrentamento por eles utilizados frente àqueles arranjos. O instrumento de coleta de dados era composto por questões relativas ao fazer diário dos profissionais e às práticas de gestão de recursos humanos, da coordenação clínica e da gerência de enfermagem. Foram realizadas observações não sistemáticas do ambiente de trabalho registradas em um diário de campo, e análise de alguns documentos de gestão. Os resultados mostraram a segmentação dos trabalhadores e a fragmentação dos coletivos, com marcada ausência de espaços onde eles pudessem expressar suas dificuldades e discutir possibilidades de resolução das mesmas. Os relatos apresentados denotaram forte controle sobre os processos de trabalho, dada a centralização do poder institucional nas mãos das chefias e quase ausência de comunicação horizontal e vertical entre elas. Imersos em um ambiente de degradação estrutural e intersubjetiva, as dificuldades daí provenientes se refletiam nas relações socioafetivas na produção do cuidado, levando à desafetação/desvinculação do outro. O enfrentamento ocorre de modos “estratégicos”, tais como adoecimentos; faltas e atrasos; não reconhecimento das necessidades dos usuários e modos de agir aqui denominados como “rotas-ação”. Esse termo define todo e qualquer agir, individual ou coletivo, que tem a potência de fazer frente (ou de subverter) às tentativas de impor uma lógica e uma ordem que atendam aos interesses de poucos. Trata-se de um agir que expressa processos autônomos de constituição de subjetividade alternativa e que coloca em ação novos agires de gestão. Frente a essas condições, coube questionar, dentre outras coisas, o tipo de produção de cuidado que tem sido realizado na clínica pesquisada. As práticas de gestão lá situadas se distanciam do que foi considerado como práticas possíveis em saúde: que garantam a maior vinculação possível entre os atores envolvidos na produção do cuidado, em um constante processo de tornar-se um dispositivo de potência.

Palavras-chave


Gestão de Recursos Humanos; SUS; Precarização; Tecnologias em Saúde.

Referências


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