Tamanho da fonte: 

Face aos discursos de humanização e integralidade nos serviços de saúde e o reconhecimento do uso de terapias complementares no SUS, com a aprovação da PNPIC (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS), abre-se espaço para questionar qual é o lugar das práticas populares de cura, ou tratamento, nesse contexto. E como os profissionais de saúde são preparados para lidarem com essas práticas? O presente trabalho pretende relatar a experiência de docente contratada, durante o ano de 2013, para o ensino da disciplina "abordagem antropológica de saúde e doença" junto aos alunos do primeiro ano do bacharelado em Enfermagem de uma universidade estadual de São Paulo. Um dos módulos desenvolvidos na disciplina foi "a diversidade dos sistemas de cura", que teve como um dos seus subitens: as práticas populares de cura. Após a leitura de texto que apresentava o desenrolar histórico do uso das práticas populares de cura no Brasil, desde o período colonial, em que essas práticas era, hegemônicas, até o seu processo de deslegitimação, desencadeado pela hegemonia do saber médico - quando passaram a serem classificadas como "charlatanismo" - e após assistirem a um documentário sobre medicinas populares, os alunos foram solicitados a realizarem uma atividade individual, respondendo breve questionário acerca das práticas populares de cura que conheciam e/ou utilizavam. Participaram 62 alunos e todos responderam que conheciam ao menos uma forma de tratamento popular, mesmo que não a utilizasse. As práticas populares mais citadas foram: chás, benzimento e simpatias, que em sua grande maioria aprenderam com seus familiares. 87% obteve o efeito desejado com essas práticas e 80% afirmou acreditar nesses procedimentos. Essa atividade serviu para despertar o interesse dos alunos sobre essas práticas, sensibilizando-os para a importância e a presença desse conhecimento popular no cotidiano das pessoas, inclusive dos usuários do SUS. Além disso, o exercício contribuiu para desencadear o que poderíamos denominar: o processo de construção da alteridade, onde não se julga esse conhecimento popular como mera "crendice" ou "ignorância", mas, respeita-o como métodos de cuidado que podem apresentar certa eficácia ao que se propõem.

Medicina Popular; Antropologia, Educação