Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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CRIAR FORMAS DE INSCRIÇÃO SUBJETIVA NA ADOLESCÊNCIA: UMA APOSTA PARA O TRABALHO COM AS PESSOAS QUE USAM DROGAS
Alissia Gressler Dornelles, Edna Linhares Garcia, Bruna Lopes Martins, Giórgia Saldanha, Bruna Rocha Araújo, Emanueli Paludo, Andressa Flores

Resumo


O uso de drogas tem sido uma grande questão no contexto social contemporâneo, que demanda muitas problematizações, a partir das quais podemos lançar novos olhares sobre a dinâmica estabelecida entre sujeito, drogas e sociedade. Este trabalho propõe-se a explorar alguns resultados obtidos a partir da pesquisa “A realidade do crack em Santa Cruz do Sul” que ocorre desde 2010 na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC e Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul - FAPERGS). Foram entrevistados 100 usuários de crack e 100 familiares, e a análise dos dados evidencia que o uso de drogas começa, na maioria dos casos, na adolescência, principalmente entre 14 e 17 anos de idade. Esse dado reflete a fragilidade experienciada pelo sujeito neste período do seu desenvolvimento, ao assinalar o descompasso entre as mudanças orgânicas e as suas consequências psíquicas. Freud (1905) aponta para este processo ao distinguir a puberdade da adolescência e situar o trabalho psíquico a ser realizado nesta fase em função da maturação sexual. Avançando nestes aspectos, Rassial (1997) refere que a adolescência apresenta um hiato na significação do seu corpo (em transição do infantil para o adulto) e nas referências que o sujeito tinha até então como balizadoras de sua existência (posição ocupada principalmente pelas figuras parentais). Essa operação marca uma dificuldade de inscrição subjetiva, que situa o sujeito numa posição “entre” autoridades, “entre” olhares. Conforme Torossian (2003), isso demonstra que ainda há significações a serem feitas, já que o início do uso de drogas na adolescência deve-se à dificuldade do sujeito integrar tais mudanças em sua história de vida e em seus projetos futuros e, assim, responder às demandas sociais que lhe são impostas. A partir deste entendimento, é necessário pensar singularmente a história de cada sujeito para compreender a serviço de que está o uso de drogas. Os resultados da pesquisa demonstram a importância das ações de promoção de saúde e cuidado neste período da vida, que visem à inscrição simbólica do sujeito no meio onde vive, isto é, a construção de seu lugar no mundo (família, escola, trabalho, comunidade) para que ele possa se colocar como autor de suas próprias escolhas e, com isso, apostar em espaços que permitam a expressão de suas potencialidades, a fim de criar formas de vida para além das drogas.

Palavras-chave


Adolescência; Uso de drogas; Psicanálise; Inscrição subjetiva.

Referências


Freud, S. (1905) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Obras Psicológicas Completas: Edição Standard Brasileira. Vol VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

Rassial, J. A passagem adolescente: da família ao laço social. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1997.

Torossian, S. A construção das toxicomanias na adolescência: travessias e ancoragens. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2002.

Torossian, S. Contribuições para a clínica psicanalítica com adolescentes usuários de drogas e toxicômanos. In: A direção da cura nas toxicomanias. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, ano XI, n. 24. Porto Alegre: APPOA, 2003.