Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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TORNANDO-ME PARTE DA EQUIPE – RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE CHEGADA A UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Júlia de Paula Penna Palhares

Resumo


O primeiro desafio do trabalho em equipe é a inserção de novos membros ao grupo. Passado algum tempo de trabalho, a equipe desenvolve rotinas, formas de relacionamento e discursos comuns, configurando toda uma cultura própria de cada serviço. Em março de 2013, assumi o cargo de farmacêutica em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Em 11 anos de funcionamento, nunca houve um farmacêutico neste CAPS. Além do processo de formação de laços com os usuários do serviço e de inserção na equipe de saúde, enfrentei, também, o desafio de ser uma profissional com formação diferente de todas as outras do grupo e com pouca tradição em prestação de cuidados clínicos. Dentro da equipe, identifiquei três grupos com os quais teria que trabalhar: os técnicos de saúde com formação superior, os técnicos de enfermagem e as técnicas de enfermagem que trabalham na Farmácia. Entre os técnicos de formação superior, a aproximação se deu principalmente pela necessidade sentida por eles de um profissional que pudesse auxiliá-los na condução da terapia medicamentosa dentro do projeto terapêutico dos usuários. Entre os técnicos de enfermagem, a inserção se deu a partir do momento em que eles enxergaram em mim uma ponte entre suas demandas e aquelas dos profissionais de nível superior. A relação mais delicada e que demandou maior disponibilidade de tempo e de sensibilidade, foi aquela com as técnicas de enfermagem da Farmácia. Por serem elas as profissionais que trabalhavam mais próximas de mim, seriam as mais afetadas por mudanças no processo de trabalho e um relacionamento de confiança teria que ser construído, principalmente por causa da responsabilidade de lidar com medicamentos de uso controlado diariamente. Na minha experiência, a aproximação foi feita aos poucos e as mudanças não ocorreram todas ao mesmo tempo. Busquei construir em conjunto formas de melhorar os processos e ambientes de trabalho, estando aberta a receber sugestões e críticas. Precisei entender que os conhecimentos adquiridos em serviço são tão ou mais importantes do que aqueles formais das universidades. Percebi que a sensibilidade e o olhar cuidadoso próprio da enfermagem faz muita diferença no entendimento das necessidades e possibilidades de autonomia ou não dos usuários com relação ao tratamento farmacológico. As críticas à condução desse tratamento também se tornaram muito caras a mim e ouvi-las abertamente me permitiu conquistar parceiras e conselheiras na forma de condução do meu próprio trabalho.

Palavras-chave


Caps; saúde mental; equipe.