Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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O TRABALHO SOLIDÁRIO EM UMA COOPERATIVA DE SEPAÇÃO DE MATERIAL RECICLAVEL: DO SOFRIMENTO PSÍQUICO À POTENCIALIZAÇÃO DA VIDA
Ramiz Candeloro Pedroso de Moraes, Carlos Roberto de Castro-silva

Resumo


Os usuários da saúde mental ainda são pessoas que sofrem com a dialética exclusão-inclusão dupla, ou seja, que são excluídos/incluídos porque são pobres e também porque são tidos como loucos. A inclusão destas pessoas pelo trabalho, na perspectiva da economia solidária, tem sido uma opção social e política no Brasil, mais especificamente nos últimos dez anos. Na visão marxista, o trabalho é contraditório, porque de um lado, é ontológico ao ser humano, central em suas vidas, de outro, é alienado e evidencia claramente as diferenças socioeconômicas e materiais de suas vidas. O trabalho na economia solidária, ainda que contraditório, tem possibilitado o crescimento psicossocial das pessoas, porque há democracia e solidariedade em seus valores. Objetivos: Estudar os aspectos psicossociais relacionados à inclusão social pelo trabalho de pessoas com transtorno mental, visando os processos de construção de autonomia e cidadania. Metodologia: Referenciamos nosso trabalho com a Psicologia Sócio-Histórica que valoriza os processos de constituição da subjetividade social. É uma pesquisa qualitativa, com um estudo de caso de inspiração etnográfica em uma cooperativa de separação de material reciclado no município de Santos, Brasil. Os sujeitos foram usuários-trabalhadores e técnicos da Saúde Mental que foram entrevistados após seis meses de observações participantes e elaboração de diários de campo. Fizemos a análise pela Hermenêutica de Profundidade de Thompson. Pesquisa de mestrado aprovada pela Plataforma Brasil. Resultados: O cotidiano dos usuários-trabalhadores no ambiente de trabalho – um galpão com pilhas de lixo e uma grande esteira – vem ampliando suas relações intersubjetivas e sociais. A cooperativa está ativa há mais de vinte anos e foi criada pelos próprios usuários e técnicos, tendo atualmente sólidas relações institucionais com a prefeitura municipal e empresas particulares. Há algumas relações de poder que permeiam as relações causando ora conformação, ora desconforto e críticas. Mesmo neste contexto, o trabalho solidário mostra-se potencializador de relações mais ativas de cidadania e emancipação, pois é democrático em relação às decisões que a cooperativa tem que tomar. Isso gera relações mais maduras dentro do local de trabalho e os usuários-trabalhadores levam estas experiências para a sociedade, sendo muitas vezes, arrimos de família, o que configura novas formas de encarar a dialética exclusão-inclusão. Conclusão: Compreendemos que o sofrimento do usuário de saúde mental é ético e também político, assim a inclusão social pelo trabalho tem se mostrado algo possível e potencializador de ação para as pessoas em questão, ampliando um horizonte fértil para o desenvolvimento de outros empreendimentos que já vem se multiplicando exponencialmente em todo o Brasil nos últimos dez anos.

Palavras-chave


saúde mental; economia solidária; dialética exclusão/inclusão social

Referências