Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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CRACK NEM PENSAR: O PROCESSO DE DESCOBERTA/ACEITAÇÃO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA POR FAMILIARES DE USUÁRIOS
Emanueli Paludo, Bruna Rocha Araújo, Giórgia Reis Saldanha, Bruna Lopes Martins, Alíssia Gressler Dornelles, Edna Linhares Garcia

Resumo


Este trabalho objetiva apresentar um recorte dos resultados da pesquisa “A realidade do crack em Santa Cruz do Sul” realizada desde 2010 na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC/FAPERGS). A coleta de dados foi através de dois roteiros semi-estruturados, envolvendo participação de 100 usuários de crack e 100 familiares de usuários. Os participantes foram contatados por meio de serviços de saúde. Participantes assinaram termo consentindo publicações e assegurando confidencialidade das informações. Após coleta de dados seguiu-se análise quantitativa e caracterização socioeconômica dos sujeitos. Atualmente, procede-se a análise qualitativa com metodologia de análise dos sentidos (re)produzidos nos discursos dos familiares (SPINK, 2000). Neste resumo apresentam-se reflexões sobre como a descoberta do uso de crack se faz presente no discurso dos familiares. A maioria dos familiares somente se dá conta do uso de crack quando: a polícia se envolve, usuário verbaliza pedido de ajuda, encontra a droga nos seus pertences, o uso se dá dentro de casa, há desaparecimento de dinheiro, móveis e objetos. Conclui-se que a percepção/conscientização de tal problemática por parte dos familiares requer a vivência explicita desta situação (comportamento, verbalização, ver, sentir). Contudo, alguns casos, constata-se que, apesar desta situação explícita, ainda persistem afirmações que negam a relação do sujeito com o crack, assinalando uma possibilidade de aceitação/reconhecimento do uso de outras drogas menos discriminadas pela mídia e sociedade, como maconha, cocaína. Neste sentido, aponta-se que o slogan “crack, nem pensar”, utilizado em campanhas midiáticas contra o crack na região sul do país, configura um convite a não reflexão e produz discursos de negação do problema, distanciando usuário e familiares, reforçando a internação como tratamento. Conclui-se sobre a necessidade de que a atenção e o cuidado dirigidos a esta população, leve em conta esta denegação (NETO, 2009), ou seja, a forte tendência de não apenas negar um fato, mas negar que tem conhecimento deste. A denegação é uma forma de desviar a consciência de uma ideia inaceitável a partir da separação das funções intelectual e afetiva; impedida de se tornar aceitável, esta ideia só alcança a consciência na forma de negação. Ressalta-se que a estratégia inconsciente da denegação, finda por exteriorizar e “desimplicar” os sujeitos nestas situações, outro ponto de tensão no enfrentamento da problemática do uso de crack.

Palavras-chave


crack;produção de sentido;aceitação

Referências


NETO, A. R. M. Sobre a denegação em Freud. Ver. Dir. Psic., Curitiba, v.1, n.2, p.5-13, jan./jun. 2009.

SPINK, Mary Jane P. (Org.). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. 2. ed São Paulo: Cortez, 2000.