Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE: ENTRE AS RELAÇÕES DE PERTENCIMENTO E A LÓGICA NÔMADE
Amanda Cappellari, Alexsander Witt Rodrigues, Caroline Couto, Betina Hillesheim

Resumo


As políticas públicas de saúde se organizam sobre o pressuposto da territorialidade, buscando uma maior inclusão de usuários, definindo as estratégias e intervenções de saúde consideradas mais adequadas para cada território. Na articulação dos sujeitos ao espaço, a produção de relações de pertencimento limitam o cuidado a alguns, perpetuando a invisibilidade daqueles que não correspondem a essa lógica inclusiva – os nômades. Nesse sentido o presente trabalho, como parte integrante da pesquisa A saúde e a lógica de inclusão: entre o território e os nômades, tem como objetivo apresentar as discussões realizadas sobre as formas pelas quais são construídas as noções de território e inclusão no campo da saúde, e sobre o processo de como se dá essa articulação perante aqueles que fogem à norma sedentária. Entendendo nomadismo, nesse estudo, como o fenômeno migratório de determinados grupos sociais e também como sujeitos provenientes de grupos que têm no deslocamento uma forma de vida, percebemos que essa população surge como um problema frente à ideia de vinculação estabelecida pelas estratégias de saúde. Os dados foram produzidos mediante observações participantes com duas equipes de Estratégia de Saúde da Família, localizadas no município de Santa Cruz do Sul – RS. A partir disso, destacamos que as situações mais encontradas foram daqueles que veem o nomadismo como uma forma de sobrevivência e resistência, apontando como causas das mudanças constantes as instituições de saúde, trabalho, família. O não cadastramento dos sujeitos, em função da falta de um endereço fixo, implica em sua pouca visibilidade para o serviço e as equipes de saúde. Na medida em que, como coloca Foucault, discursos são práticas, pois produzem formas de ver e viver, pode-se compreender que as políticas públicas de saúde estão necessariamente relacionadas à educação, visto que constituem determinadas formas de ser, tanto dos trabalhadores da saúde quanto dos usuários. Essas formas de ser, constituídas pelo campo da saúde, têm reduzido as relações de atenção e cuidado entre sujeitos nômades e equipes das ESFs a um vinculo bastante frágil, produzindo fronteiras estanques que determinam quem pode ou não ser atendido; pondo em xeque, assim, o parâmetro “saúde para todos” colocado pelo Sistema Único de Saúde.

Palavras-chave


Políticas públicas de saúde; território; nomadismo.