Rede Unida, 11º Congresso Internacional da Rede Unida


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RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A ATUAÇÃO DO (A) ASSISTENTE SOCIAL RESIDENTE NO SERVIÇO DE TRANSPLANTE HEPÁTICO REALIZADO NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO WALTER CANTÍDIO
Mariana Lima dos Reis, Gerusa do Nascimento Rolim, Germanne Patrícia Bezerra Matos, Richelly Barbosa de Medeiros, Lúcia de Fátima Rocha Bezerra Maia

Resumo


A figura do assistente social enquanto residente é algo novo. Capacitar os profissionais envolvidos na assistência constitui desafio da Política de Saúde Pública. Nesse sentido, desde 2002 o Ministério da Saúde apoia as Residências Multiprofissionais (RMS) por meio do Projeto de Reforço à Reorganização do Sistema Único de Saúde (REFORSUS). A parceria entre o Ministério da Saúde (MS) e o da Educação (MEC) objetiva reforçar o ensino em serviço, possibilitando a dialética entre teoria e prática para o fortalecimento da formação profissional para o Sistema Único de Saúde (SUS). A Portaria Interministerial MEC/MS nº 2.117 de novembro de 2005, instituiu no Brasil a Residência Multiprofissional em Saúde. O Hospital Universitário Walter Cantídio – Universidade Federal do Ceará (HUWC/UFC), lócus do referido trabalho, possui certificação de ensino (Portaria Interministerial nº 2.378 de 26 de outubro de 2004), tornando-se espaço fértil para a implantação do Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Atenção Hospitalar à Saúde - RESMULTI, criado em 2010. Atualmente, no HUWC/UFC, funcionam dentro da RESMULTI 6 áreas de concentração, são elas: Assistência em Transplante; Diabetes; Oncohematologia; Saúde da Mulher e da Criança; Saúde Mental; Terapia Intensiva. Compõem a equipe multiprofissional do eixo de concentração Assistência em Transplante profissionais de 6 categorias, sendo 4 assistentes sociais, 3 enfermeiros, 5 farmacêuticos, 3 fisioterapeutas, 2 nutricionistas e 2 psicólogas, considerando residentes do primeiro e do segundo ano de formação. Sobre o público atendido pelo (a) assistente social nessa instituição, é possível assinalar de acordo com pesquisa realizada em 2010, que 23% dos usuários entrevistados pelas assistentes sociais apresentava situação de extrema pobreza (MEDEIROS, 2010). O trabalho realizado incide sobre essas e outras manifestações da questão social que repercutem no processo de transplante, adesão ao tratamento e/ou promoção da saúde. Entende-se por questão social as desigualdades sociais, políticas e econômicas inerentes à sociedade capitalista, que evidenciam a dificuldade de acesso da classe trabalhadora aos bens socialmente produzidos. (IAMAMOTO, 2005). As residentes de serviço social, que atuam no serviço de transplante do HUWC/UFC, assumem uma rotina no cotidiano institucional direcionada aos usuários em pré e pós-transplante. A atuação se dá na sala do Serviço Social - onde são atendidas demandas espontâneas referentes ao processo de transplante e adesão ao tratamento – no ambulatório pré-transplante - lugar no qual ocorre o atendimento dos pacientes em avaliação pré-transplante, juntamente com familiar ou cuidador, mediante realização de Entrevista de Acompanhamento Social, Parecer Social e Avaliação Social, com foco nos contextos social e familiar – na clínica de transplante, onde são realizadas visitas à beira do leito para paciente e/ou acompanhante, no sentido de garantir acompanhamento às demandas sociais que podem surgir durante a internação. Como técnicas para subsidiar o estudo social da realidade socioeconômica e cultural dos pacientes, são aplicadas entrevistas semiestruturadas com os mesmos. Ocorre, a participação e a contribuição em sessões clínicas dos Programas de Transplante, elemento que contribui para o diálogo entre as categorias que compõem a RESMULTI no eixo de Assistência em Transplante e entre a equipe médica, que passa a dialogar com as demais categorias. Uma importante competência das assistentes sociais residentes são as ações socioeducativas, individuais e coletivas, que visam facilitar orientações junto aos usuários, tendo em vista promover o entendimento sobre o processo de transplante, os direitos sociais, o controle social e as políticas sociais públicas. Em suma, aponta-se que a Residência Multiprofissional, mesmo diante dos desafios presentes na área da saúde, é um campo importante de formação e pesquisa em saúde. Para além da atuação profissional, as residentes cumprem parte de sua carga horária teórica em aulas que contemplam 3 eixos: Transversal, com disciplinas comuns a todos os residentes que compõem a RESMULTI independente da área de concentração e categoria; Área de concentração, comum para todas as categorias profissionais que compõem a mesma área de concentração; Categoria, comum a todos os profissionais da mesma categoria, independente da área de concentração. Entre os avanços, destacam-se a possibilidade de construção de práticas integrais em saúde, a articulação em equipe multiprofissional, a formação teórico-prática, o estudo teórico em conjunto com residentes e profissionais de outras categorias e o elemento novo trazido por essa modalidade de pós-graduação, o treinamento em serviço. Entre os desafios está a atuação profissional, inserida em um contexto de serviços precarizados e fragilizados pela insuficiência de recursos financeiros, físicos e humanos. O neoliberalismo, prerrogativa da atuação do Estado em contexto contemporâneo, impõe limites às políticas sociais públicas (LAURELL, 2002), inclusive ao SUS. Outra dificuldade corresponde à cultura institucional ainda assistencial-curativa, que tende à predominância de uma atenção centrada na doença, desconsiderando as dimensões social e psicológica dos sujeitos em tratamento. Todavia, considerando a existência de contradições, vale mencionar que a Residência Multiprofissional em Saúde pode ser considerada como uma contra-hegemonia a essa realidade em ambiente hospitalar e em face da assistência em transplante.

Palavras-chave


Residência; Saúde; Serviço Social

Referências


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS (ABTO). Registro Brasileiro de Transplantes. São Paulo, 2012.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS (ABTO). Registro Brasileiro de Transplantes. São Paulo, 2011.

BRASIL. Portaria Interministerial nº 2.117, de 3 de novembro de 2005. Institui no âmbito dos Ministérios da Saúde e da Educação a Residência Multiprofissional em Saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 nov. 2005.

IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 8ª Ed. São Paulo: Cortez, 2005.

MEDEIROS, R. B.; MAIA, L. F. R. B; OLIVEIRA, L. C.; MOREIRA, A. S. Determinantes sociais da saúde e expressões da questão social: desafios vivenciados por pacientes de um centro de transplante hepático do Ceará. Fortaleza: Mimeo, 2010.